Não pretendo fazer nenhuma
afronta aos que pertencem a uma religião e a praticam, que dividem o mundo
entre bem e mal, Deus e diabo, corpo e alma, gramática e prática, real e ideal,
etc. Adotam o dualismo platônico como filosofia de vida.
Quero apenas expor o meu
jeito de ver o mundo, se isso interessar a alguém. Nesse tempo de carnaval, o Nordeste é mais Brasil, onde a participação é bem mais efetiva, menos
europeu, como foi nas eleições de 2014. No Sudeste e Sul, o carnaval é feita
para ser assistido, por isso está em decadência.
Considero Deus carnavalesco,
muito embora há quem diga que o carnaval seja terreiro do diabo. Nos tempos antigos,
quando nossa sociedade era mais repressora nos costumes, a imagem de um Deus era
apresentada como triste, sério, que era substituída no carnaval pela figura debochada
do capeta. Assim, ficava do jeito que o
diabo gosta.
As religiões da culpa, que
apresentam o Filho de Deus crucificado para expiar nossos pecados. A religião
que não ensina as pessoas fazerem autocrítica de seus erros, mas jogar a culpa
do pecado no diabo recomenda a seus fiéis que virem as costas para o carnaval.
Essas religiões apresentam um
Deus fiscalizador, capataz, escravocrata que não quer a felicidade de seus
fieis. Ou pede o dízimo ou então a penitência. Este não é meu Deus. Não sou temente a Deus, Ele é meu amigo, Deus é amor, gosto dele.
Meus Deus me aceita como
sou, permite me diferenciar dos outros
pelos meus defeitos, quer a diversidade. Como dizia o escritor brasileiro Mário
de Andrade, é arlequinal.
Não quero funda uma religião
nova ,libertária, porque toda religião aprisiona Deus numa gaiola e apresenta-o
como quer. Toda religião elabora verdades apenas para conseguir seguidores que
ainda não se conhecem, não sabem ouvir a voz de dentro, precisam de orientações
externas. Necessitam de gurus.
Se carnaval é folguedo,
brincadeira, alegria, então Deus é carnavalesco. Certamente estará fantasiado
de ser humano e desfilando no sambódromo.
As pessoas que acompanham uma
escola de samba não são diferentes daqueles senhores circunspectos que batem no
peito e dizem “estou salvo”. A pequenez humana se revela em todos os lados.
Procuro ser o mesmo na
igreja, como no desfile de carnaval, porque sei que a santidade ou a salvação
não estão apenas nos templos, nem são distribuídas ou vendidas por presbíteros.
Que Deus seja louvado!
Aleluia! Viva o carnaval!
*Hélio Consolaro é professor,
jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
3 comentários:
Belo artigo. Gostei e recomendo.
Adauto Elias Moreira
Muito bom como todos os seus artigos.
Ah, Cala boca... que lixo de artigo!
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