Hélio Consolaro*
Hoje, peço licença a meu leitor, vou fazer um texto bem
catequético, como se fosse um péssimo sermão do padre Antônio Vieira
doutrinando os portugueses. Há momentos em que só a literatura não basta.
Era uma vez, minha amiga, adulta, diplomada, bem colocada
socialmente, queria que eu odiasse a amiga dela só porque ela era sua inimiga.
Atitude bem parecida com os tempos juvenis. Aquela história de pertencer a
gangues: quem não estiver comigo, está contra mim.
Eu me dava bem com a tal inimiga, não havia me feito nenhum
desaforo, não brigamos, não ocorreu nenhum entrevero. Odiar por tabela? Aliás,
com ou sem tabela, não devemos odiar nunca.
Mas há gente assim, como o piolho, vai pela cabeça alheia.
Outro dia encontrei um ex-colega de escola que era antipetista e ficamos a
conversar na esquina. Falou um monte de besteira, pois sabia que eu era do
partido. Só me restou fazer-lhe algumas perguntas:
_Você apanhou, brigou ou bateu nalgum petista? O partido
deixou de lhe pagar algum débito?
_Não! – continuou.
_Aliás, até melhorei de vida depois que o PT passou a
governar.
_Então – acrescentei - _O PT fez o bem para você e sua
retribuição é o ódio?
Meu interlocutor silenciou. Depois de um hiato, argumentou:
_É que meu patrão fica falando mal do PT todos os dias. Até
eu pegar ódio pelo partido.
Respondi-lhe:
_Até ele como patrão melhorou de vida, tenho certeza.
E ele continuou
o meu pensamento:
_Sim. Tinha 12 empregados, agora tem 30. É que assina a
revista Veja, só assiste televisão. Esse pessoal envenena todo mundo.
_Os petistas não somos santos, há gente ruim em nossas
fileiras. Como há também noutros partidos, mas só falam mal do PT. Escondem a
sujeira dos outros partidos.
E continuei a catequese:
_Há muita gente com os interesses feridos com administrações
petistas, odeiam o partido por isso, porque a mamata acabou mas escondem o motivo verdadeiro,
apresentam falsos argumentos, e tentam fazer dos empregados inocentes úteis.
E continuei:
_Não vou pedir que seja um petista, nem que só vote no PT,
mas deixe de odiar. Isso faz mal para a sua saúde. A gente vota com o cérebro e
não com as vísceras.
Despedimo-nos. Recordei-me do caso de minha amiga que queria
me obrigar a odiar alguém.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário