AGENDA CULTURAL

16.5.15

Vender a crise

Hélio Consolaro*

Economicamente, o ano de 2015 não está igual ao de 2014. Quem discordar disso está no mundo da lua. 

Outro dia, conversando com um empresário, dei-lhe o seguinte conselho: os petistas mais cegados pela ideologia dizem que está tudo bem; os tucanos mais radicais, à direita, tudo está podre, o Brasil está numa crise sem igual.
Quem está vivendo o dia-a-dia econômico do país não pode assumir nenhuma dessas duas posições extremas em suas atividades, a melhor atitude é ficar na coluna do meio, torcendo e colaborando para a solução de nossos problemas, porque qualquer crise prejudica a todos. Como disse o filósofo popular: “o urubu é preto em todos os lugares”. 

Outro dia fui comprar uma calça e uma camisa, tinha uma solenidade para presidir, aproveitei a oportunidade para comprar uma roupa nova.

O preço da vitrine da loja me assustou. O conjunto calça-camisa ficava mais de R$ 400,00. Como sou cliente da loja, gosto de comprar lá, entrei assim mesmo. Nenhum comprador a não ser eu. O gerente e apenas uma funcionária. Paradeira geral.
A atendente disse-me para eu não me assustar, porque tinha descontos. Escolhi  a dupla calça-camisa.

- Então, vamos ao preço!

No cartão, a prazo, 40% de desconto. No cartão, direto, 30 dias, mais 30%. Comprei a minha roupa nova por um pouquinho mais de R$ 200,00.

E se eu tivesse me assustado com os preços? Não teria entrado na loja. Afinal, a vitrine não é para atrair consumidores? Naquela loja a vitrine era para assustar clientes. Ele não quer vender produtos, mas vendia a crise. Ainda bem que ele não veio puxar assunto sobre política...
Não sei se foi uma opção pessoal do dono da loja ou é uma orientação da entidade representante das empresas: fabricar a crise, ferrar a Dilma e o PT. Haveria outra opção: não colocar preço na vitrine.
Ou então, aquele empresário com certa idade estava se precavendo para enfrentar tabelamento de preços (o comportamento da loja era bem parecido de quem viveu o Plano Cruzado) é uma coisa do Brasil antigo. Nós estamos no Brasil moderno, mas há gente que não percebeu isso ainda.

Estava dando um tiro no próprio pé. Talvez quisesse chegar numa roda de empresários e colaborar com o papo: “Está tudo parado!”.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

    

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