Hélio Consolaro*
Economicamente, o ano de 2015 não está igual ao de 2014.
Quem discordar disso está no mundo da lua.
Outro dia, conversando com um empresário, dei-lhe o seguinte
conselho: os petistas mais cegados pela ideologia dizem que está tudo bem; os
tucanos mais radicais, à direita, tudo está podre, o Brasil está numa crise sem
igual.
Quem está vivendo o dia-a-dia econômico do país não pode
assumir nenhuma dessas duas posições extremas em suas atividades, a melhor
atitude é ficar na coluna do meio, torcendo e colaborando para a solução de
nossos problemas, porque qualquer crise prejudica a todos. Como disse o
filósofo popular: “o urubu é preto em todos os lugares”.
Outro dia fui comprar uma calça e uma camisa, tinha uma
solenidade para presidir, aproveitei a oportunidade para comprar uma roupa
nova.
O preço da vitrine da loja me assustou. O conjunto
calça-camisa ficava mais de R$ 400,00. Como sou cliente da loja, gosto de
comprar lá, entrei assim mesmo. Nenhum comprador a não ser eu. O gerente e
apenas uma funcionária. Paradeira geral.
A atendente disse-me para eu não me assustar, porque tinha
descontos. Escolhi a dupla calça-camisa.
- Então, vamos ao preço!
No cartão, a prazo, 40% de desconto. No cartão, direto, 30
dias, mais 30%. Comprei a minha roupa nova por um pouquinho mais de R$ 200,00.
E se eu tivesse me assustado com os preços? Não teria
entrado na loja. Afinal, a vitrine não é para atrair consumidores? Naquela loja
a vitrine era para assustar clientes. Ele não quer vender produtos, mas vendia
a crise. Ainda bem que ele não veio puxar assunto sobre política...
Não sei se foi uma opção pessoal do dono da loja ou é uma
orientação da entidade representante das empresas: fabricar a crise, ferrar a
Dilma e o PT. Haveria outra opção: não colocar preço na vitrine.
Ou então, aquele empresário com certa idade estava se
precavendo para enfrentar tabelamento de preços (o comportamento da loja era
bem parecido de quem viveu o Plano Cruzado) é uma coisa do Brasil antigo. Nós
estamos no Brasil moderno, mas há gente que não percebeu isso ainda.
Estava dando um tiro no próprio pé. Talvez quisesse chegar
numa roda de empresários e colaborar com o papo: “Está tudo parado!”.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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