AGENDA CULTURAL

26.8.15

Duofel - Duas décadas de pesquisas e parceria sonora


Texto: Ejazz - site do jaz e da música instrumental brasileira


Serviço:
27/08/2015 - quinta-feira 
Mudança de última hora, devido à chuva: teatro municipal Castro Alves
Evento: Festival de Música Instrumental de Araçatuba-SP - Poiesis e Prefeitura de Araçatuba  
20h - Zé Renato Gimenes e Cássio Martins
21h - Duofel

Manter um duo de violões por mais de duas décadas já é por si só um feito notável. Ainda mais com a integridade artística de Fernando Melo e Luiz Bueno, instrumentistas e compositores do Duofel, que desde seu primeiro encontro, em 1977, têm priorizado a qualidade musical e a investigação sonora.
Autodidatas, Luiz Bueno e Fernando Melo conheceram-se em 1977, em São Paulo, tocando numa banda de rock progressivo, a Boissucanga. Luiz tocava guitarra e Fernando era o baixista. Insatisfeitos com a música que faziam, decidiram começar a compor juntos para o formato de um duo de violões. A consciência de que precisavam de mais experiência levou-os a passar o final daquele ano e boa parte de 1978 viajando por Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Tocaram em diversos locais, inclusive nas ruas, aproveitando a experiência para vivenciar ritmos e manifestações folclóricas regionais, como o maracatu, a embolada, o repente e o baião.

Na volta a São Paulo, depararam-se com o 1.º Festival Internacional de Jazz de São Paulo, no Anhembi, quando entraram em contato com feras do gênero, como Dizzy Gillespie e John McLaughlin, sem falar na atração mais comentada do evento: o alagoano Hermeto Pascoal. “A gente queria ouvir todo o tipo de música. Ainda tínhamos sede de descobrir nossa música na música dos outros. Ali percebemos que ainda estávamos engatinhando. Tínhamos uma linguagem própria, mas uma técnica ainda insuficiente”, admite Luiz.

O próximo passo foi acompanhar cantores, como Chico de Abreu e Tato Fischer. Este apresentou a dupla à cantora mato-grossense Tetê Espíndola, com quem o Duofel manteve uma parceria de sete anos. “Aí realmente começamos nossa carreira profissional. Sentimos pela primeira vez a força de nossa música. Tetê sempre levou a carreira muito a sério. Aprendemos muito com ela”, reconhece Luiz. Em 1987, os dois violonistas lançam “Duofel Disco Mix”, seu primeiro disco, em produção independente.



Uma série de shows ao lado de Tetê e Arrigo Barnabé, na Bélgica e na França, em 1989, gerou o convite do produtor Rainer Skibb para a gravação do álbum “As Cores do Brasil”, lançado no ano seguinte, na Europa. Uma nova turnê pelo continente europeu, em 1993, aproximou a dupla de outro grande músico: o violonista Sebastião Tapajós. Na volta dessa viagem acontece a gravação de “Duofel”, o terceiro disco (pelo selo Camerati), que destacava participação de Oswaldinho do Acordeon e rendeu cinco indicações para o Prêmio Sharp.

Registrada no CD “Espelho das Águas - Ao Vivo” (Velas, 1994), a parceria com o percussionista indiano Badal Roy também foi muito enriquecedora. “Esse encontro nos trouxe uma outra sonoridade”, diz Fernando, lembrando que o interesse do ex-parceiro de Miles Davis e Ornette Coleman pelas composições do Duofel melhorou muito sua auto-estima. “Os produtores das gravadoras elogiavam nosso trabalho, mas sempre acabavam sugerindo que a gente fizesse releituras de canções conhecidas, deixando de lado nossas composições”, reclama Luiz.

Outro parceiro que contribuiu decisivamente para ampliar os limites sonoros do Duofel foi Hermeto Pascoal, responsável pelos arranjos do CD “Kids of Brazil” (Velas, 1996), vencedor do Prêmio Sharp. “Nesse trabalho descobrimos novas afinações para os violões, porque algumas notas que Hermeto escrevia não existiam em nossas afinações. Essa foi uma grande escola. Ali começamos a apurar nossa música. Perdemos qualquer medo de criar”, conta Fernando.

Após bem-sucedidas apresentações em festivais de prestígio, como o Summerstage, em Nova York (EUA), e no Jazz à Vienne, em Lyon ( França), em 1998, a dupla grava finalmente o CD "Atenciosamente, Duofel". Lançado pela Trama, em 1999, esse álbum destacou composições de Fernando e Luiz, em homenagem a músicos que marcaram a carreira do Duofel. No ano seguinte, as faixas “É Pra Jards”, “Subindo o Tapajós”, “Fax para Uakti” e “Azul da Cor da Manteiga” surgem em versões diferentes, registradas ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo, no CD “Duofel 20”, onde Hermeto Pascoal e Oswaldinho do Acordeon aparecem em duas faixas como convidados especiais.

Em outubro de 2003 captaram som e imagem no show de celebração de 25 anos de parceria, no Teatro do SESC Pompéia, em São Paulo, lançando em novembro de 2004 pela gravadora MCD. o DVD / CD, “Frente & Verso”, pioneiro no segmento. Os dj’s e produtores Manoel Vanni e Franco Jr., os Lunatics, participam em duas faixas experimentando com a música eletrônica.
Em 2005 criam sua prórpia estrutura de gravação e distribuição com a Fine Music lançando o CD “Precioso”, segundo album solo em toda a discografia, numa homenagem a cidade de Manaus e aos vinte e cinco anos de parceria. Nove composições próprias e um arranjo para “Bom Dia Tristeza” de Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes.

“Formado por Fernando Melo e Luiz Bueno, o DUOFEL é a mais original dupla de violões dos últimos muitos anos. Ou melhor, é mais radicalmente: esqueçam-se das outras duplas de violões. O DUOFEL tem concepção musical única e sonoridade inimitável. Hermeto Pascoal acredita que represente a grande novidade da música instrumental brasileira” (Mauro Dias / Jornal O Estado de São Paulo / 99)
“Na música instrumental, que não conta com o poderoso veículo da poesia, um árduo e longo caminho é percorrido para ser atingida uma identidade musical, isto é, o status de perfil próprio, o estilo. O DUOFEL atinge esse invejável patamar na música brasileira. E mais: coloca no mercado um CD destinado a ter forte ressonância na juventude”. (Zuza Homem de Mello / 94)

Virtuosismo, interação sensível e um potencial inesgotável: “Sem nenhuma dúvida, o DUOFEL faz a nova música instrumental do Brasil”. (Manfred Gillig / GUITARRE AKTUELL / Alemanha / 90)

“Foi amor à primeira audição! Sua música contagiante e emocionante, principalmente quando apresentada “ao vivo”, nos faz crer que uma nova música vem por aí” (Rita Kornblum / Universidade de Connectcut – EUA / 96)
“Poucas vezes pude ouvir tamanha quantidade de lirismo, sensibilidade, técnica, afinações esquisitas, arranjos intrincadíssimos (cortesia do mestre Hermeto Pascoal), harmonias esplendorosas... Desde a abertura até a última nota da última faixa, ouve-se um álbum absolutamente irrepreensível que, sem exagero, pode ser considerado um dos melhores álbuns instrumentais já gravados neste planeta, em todos os tempos. Absolutamente obrigatório!!!” (Régis Tadeu / Revista Cover Guitarra / 96)
“O DUOFEL não é um duo, é um trio, às vezes um quarteto e outras uma banda inteira, por isso acho que deveriam mudar o nome para TRIO DU’CA” (Hermeto Pascoal/93)
“O show do Duofel é realmente empolgante e flui com uma leveza que confere `a sua proposta estética uma dignidade invejável” (Wladimir Soares / Jornal A Noticia / 04)

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