AGENDA CULTURAL

20.10.15

Outono de margaridas

Capa do livro
Hélio Consolaro*

É muito delicado escrever sobre o livro publicado por uma amiga (ou amigo). Se falar bem, é por causa da amizade; se falar mal, é um ingrato.

A confreira da Academia Araçatubense de Letras Marilurdes Campezzi lançou durante a 7.a Jornada de Literatura de Araçatuba, 18/9/2015, o seu livro “Tempo de colher margaridas”. Depois da leitura do livro, a obra em primeiro lugar, ninguém pode manchá-lo com a nódoa do desprezo.

Trata-se uma obra produzida no outono da vida, mas para Marilurdes essa estação será longa, ela vai colher muitas margaridas, porque elas foram sementes bem plantadas na juventude. Um outono colorido. Com tanto sentimento, os versos só podiam sair brancos, assimétricos e livres.

O poema “Sinais de vida”, dedicado a um fotógrafo, tão declamado por Marilurdes Campezi nos saraus de Araçatuba, revela o tema de todo o livro. Ela se revela autêntico, não quer que o retratista aplique recursos para disfarçar a sua velhice:

Não. Não manipule esse retrato
que você fez do meu rosto natural.
Deixe que as linhas cruzem a minha testa,
nítidas amigas, paralelas e discretas,...
(Poema: Sinais de vida)
 
Marilurdes Campezi, Jean de Oliveira, Antonio Luceni na biblioteca municipal Rubens do Amral
Na vida, Marilurdes despetalou muitas margaridas, fazendo o jogo do bem-me-quer, malmequer, porque não somos apenas amados, ser odiado ou detestado também faz parte do jogo.  Jesus Cristo não foi crucificado?

O outono é assim, tão certo,
Mas não o compreendemos como amigo
Que chega...
E que sempre nos avisou da chegada.
(Poema: Flores secas)

A escolha da margarida como a flor homenageada foi muito bem pensada por Marilurdes, porque ela representa a inocência, a virgindade, a simplicidade, a pureza, a confiança, a criatividade e o amor leal. Tudo de bom. Toda flor é feminina, mas a margarida é mais mulher.
No livro de poesia, Marilurdes transparece uma  mulher que vive muito bem, não briga com sua idade, é um vinho que envelheceu e melhorou a qualidade, mas, sem saudosismo doentio, reflete cada momento, cada coisa, cada pessoa que fez ou faz parte de sua vida.

As agulhas não perfazem
O caminho por mim escolhido.
Recusam-se a ferir o tecido
para seguirem em frente,
puxando atrás as lembranças,
as querências,
as alegrias e decepções.
(Poema: Costuras)

O livro não é dividido tradicionalmente em capítulos, mas a divisão é marcada por frase destaca em duas páginas coloridas. E, ainda, deixou espaço para que o leitor faça o seu poema.

Como escreveu Antonio Luceni em seu posfácio: “Tempo de colher margaridas funciona como um balanço de contas de cidadã, educadora, escritora, esposa, mãe, avó e amiga...” Parabéns, amiga Marilurdes, pelo sonho realizado.
Livro editado, diagramado e publicado por Antônio Luceni, 135 páginas. Publicado graças ao prêmio do Fundo Municipal de Cultura de Araçatuba, R$ 40,00.

*Hélio Consolaro, professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP 

Contatos com Marilurdes Campezi: 18 3623 4303
lulacampezi@yahoo.com.br

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