AGENDA CULTURAL

20.11.15

José Ferreira Baptista Júnior o político que sempre lutou para o fim do salário de vereador

Prestes a completar 100 anos, ex-vereador acha que a população deveria fiscalizar mais seus eleitos


JORNAL O LIBERAL, ARAÇATUBA, 17/11/2015

"Fui vereador em um tempo em que não se ganhava para exercer o cargo e a gente trabalhava muito". A frase chama a atenção, ainda mais em uma época onde o país provavelmente atravessa a maior crise política de sua história, com enorme descrédito sobre boa parte da classe política. 

Quem a falou, e faz questão de provar o que diz, é o ex- vereador e ex-presidente da Câmara de Araçatuba, José Ferreira Baptista Júnior, mais conhecido como Ferreirinha, que ao meio-dia do próximo 31 de dezembro completará um século de vida. Na tarde de sexta-feira passada ele abriu as portas de sua casa à reportagem do O Liberal Regional para falar um pouco sobre política e da forma como enxerga hoje a sociedade e a cidade onde ele vive há 90 anos.

José Ferreira é filho de portugueses. O pai dele deixou a terra natal não pensando em voltar mais. O primeiro salário foi repassado ao avô de Ferreirinha, que foi quem emprestou dinheiro para a viagem. 

Ferreirinha Nasceu em um sítio em Birigui, o primeiro de oito filhos. A família se mudou em janeiro de 1925 para Araçatuba, após o pai comprar uma máquina que beneficiava arroz e café e se basear em um imóvel no começo da Rua Bandeirantes. 

Lá também fazia a moagem do milho. "A italianada de Araçatuba vinha com um saco com milho pra trocar por fubá e fazer polenta", lembra Ferreirinha.

Ele cursou o primário em Araçatuba e como aqui não tinha o ginásio foi para Campinas (SP), onde estudou no Ateneu Paulista e depois no Cesário Motta, duas instituições bastante respeitadas na época. 

Mais tarde, Ferreirinha estudou Direito e não demorou para descobrir sua vocação de político. Foi membro da primeira legislatura na cidade, casa onde ocupou a presidência.

POLÍTICA

Sua vida política foi marcada pela principal bandeira de luta: o fim do pagamento de salário para os vereadores. Ferreirinha mesmo hoje não arreda pé de suas convicções. "O vereador é um servidor público, se reúne uma vez por semana, como vai ter ordenado?", pergunta com indignação. "Quando eu tive ordenado eu doava para instituições de caridade e tenho recebidos guardados", afirma.

Questionado quanto à possibilidade de algum dia o vereador de Araçatuba deixar de receber salário (ou subsídio, como alguns gostam de dizer), a resposta é rápida: "Eu acho que não vai acontecer isso nunca, todo mundo quer ordenado, o pessoal entra lá e a primeira coisa que querem é o ordenado", fala.

José Ferreira tem orgulho de mostrar a pasta de capa verde onde estão vários recortes de jornais com reportagens sobre sua trajetória política. Uma delas, que saiu em janeiro de 1980, chama a atenção. Trata da escolha de Ferreirinha como o melhor vereador de 1979. E ele garante que a escolha foi merecida. "Eu fui vereador e sempre trabalhei muito. Eu investigava, eu visitava os bairros, levava os problemas para a Câmara", contou.

FISCALIZAÇÃO

Mesmo afastado da política há algum tempo, Ferreirinha faz questão de acompanhar as sessões da Câmara sempre que pode. É um gesto que, segundo ele, mais pessoas deveriam fazer. "A população só lamenta, critica os erros, mas fica só nisso. Precisaria ter mais ação, fiscalizar seus candidatos eleitos e não reeleger os maus políticos, esse seria o pior castigo para eles", acredita.

Ferreirinha também lembra que foi candidato a prefeito e deputado, mas não venceu. "Eu não queria ser candidato a prefeito, mas como era líder do partido de Penápolis até Andradina, na minha ausência o partido se reunia e lançava o meu nome. Eu falava: não posso ser candidato a prefeito. Precisa gastar muito. Eu não tenho dinheiro pra gastar. Tenho família grande pra gastar. Fiz alguma coisa, soltei por aí e mais nada", falou.

ARAÇATUBA
Quase completando um século de vida, José Ferreira Baptista (fala com entonação especial no 'p' para que não seja ignorado) confia no crescimento de Araçatuba que só é sete anos mais velha do que ele. Para ele, o que faz a diferença por aqui é a sua gente. "Desde o começo Araçatuba se desenvolveu mais do que as outras cidades da região. Isso desde o começo. É um pouco da vocação do pessoal da cidade. É o povo que faz a cidade e faz a cidade progredir também".

O que mais o deixa desapontado é o mau comportamento de algumas pessoas, que picham, jogam lixo no chão ou simplesmente não fiscalizam e ajudam a cuidar da cidade.

Em um país, onde nas suas palavras, "o povo não liga e não dá importância pra história", José Ferreira gostaria de ser lembrado pelas futuras gerações não pelas realizações na política, mas sim pelo caráter.

"Gostaria que as pessoas lembrassem de mim pelas qualidades positivas que eu posso ter tido. Eu sinto que tenho um nome respeitado, pelo modo como me tratam. Sempre tive uma conduta honesta e correta na vida particular e pública".

Teve mais: foram oito filhos - quatro mulheres e quatro homens - e todos estão formados. Perguntado sobre a quantidade de netos e bisnetos, ele responde com um sorriso: "Uma porção deles". Como a esposa Maria Amanda Ferreira Baptista, que morreu há mais ou menos dois meses com 92 anos, foram 70 anos de parceria. 


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