O tempo é um enigma
que intriga crianças e adultos que ainda não se desprenderam de se maravilhar
com aquilo que parece evidente. A história de Momo se passa num reino de
fantasia situado no nada e em lugar nenhum, ou numa região sem tempo. (Sinopse
do livro “Momo, o senhor do tempo”, de Michael Ende.)
Hélio Consolaro*
29/12/2015
O ano novo já está chegando, quando começar, já é ontem. Os movimentos cíclicos
do universo são incorporados pela natureza humana. O tempo só aparece no desgaste
dos corpos, por isso dizemos que ele é implacável e o espelho é um ser de
linguagem dura, sem eufemismo.
As mudanças de meu rosto no espelho não foram percebidas,
porque não há o registro da imagem de cada dia, como faz o computador. O ontem só
existe quando comparado com o presente.
Está provado: o tempo é uma ilusão que se concretiza na
matéria. Tanto é que os velhos se dizem tão jovens de espírito, mas seus corpos
estão decadentes.
Enquanto os livros de autoajuda dizem que o único tempo
que existe é o presente, por isso aproveitemo-lo; a arqueologia, a história e a
física afirmam que o tempo presente não existe, quando o percebemos, já passou.
O segundo atual empurra o outro para a anterioridade.
Quando viajo de avião e vejo lá de cima rios, cidades e
florestas, tudo minúsculo, muitas vezes os detalhes desaparecem, fico a pensar
como Deus nos vê, se nos vê. Sempre me pergunto, por que não aterrissamos mais
humanos do que quando decolamos.
Desçamos das nuvens, caro leitor, e coloquemos os pés no
chão novamente. O ano novo é um calendário, uma convenção. Todos combinam a festa
de passagem de ano, e ela acontece. Se não houvesse essa sinergia, primeiro de
janeiro seria um dia como os outros.
Então, façamos como o poeta Carlos Drummond de Andrade em
seus versos, já que essa “merda” de tempo vive nos pregando peças:
Para ganhar um ano novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem
de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que
o Ano Novo
cochila e espera
desde sempre.
(Carlos
Drummond de Andrade)
Assim,
caro leitor, o ano novo tem o seu frescor ou seu mofo, vai depender de sua
mentalidade arejada ou tacanha. Feliz ano-novo
novo ou feliz ano-novo velho.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP
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