Hélio Consolaro*
Lendo a entrevista do psicanalista e professor da
Universidade de São Paulo (USP) Christian Dunker, no portal da revista Fórum,
uma de suas respostas me levou a pensar nos ricos de Araçatuba.
Antigamente, a pessoa ficava rica, ninguém questionava a origem
de sua riqueza, se era lícita ou ilícita. De repente, ia passear na Europa,
frequentava altas rodas. Quando muito saíam algumas conversinhas a respeito na
roda de amigos. Se ostentava riqueza, bastava isso para legitimar o seu papel
na sociedade. Não havia Imposto de Renda, cruzamento de fontes de renda pela
informática, Polícia Federal e nem
Ministério Público metendo o bedelho para saber a origem de tal ostentação.
Como araçatubense de segunda geração, capiau de quatro costados,
conheço cada história da carochinha justificando porque o sujeito ficou rico de
repente... Não digo os nomes nem sob tortura, porque não tenho nenhuma relação
pessoal com os fatos, nem vai resolver os problemas do Brasil, não sou
historiador, faziam assim porque era desse jeito em todas as cidades, era a
cultura da época.
Diz o professor entrevistado: “O mais importante é o seguinte:
existe uma mutação dos símbolos que marcam uma classe. E é uma mutação boa
porque, até então, o discurso senhorial vinha com um tipo de apropriação dos
signos culturais de classe que faziam com que não fosse necessário contar
nenhuma história a respeito. Você vai para a Europa, tem alguém contando que o
barão tal, a minha família mora aqui há cem, duzentos anos, ganhou na batalha
tal título… São os ricos muito, muito velhos. Os nossos ricos se contentavam em
mostrar os signos. Você tem um carro, não precisa saber se comprou
à prestação, se roubou, se é fruto de um negócio ilícito, não importa. Os
nossos ricos não fizeram nada para diminuir a iniquidade, a diferença social,
pelo contrário. Desde o modo de se vestir até onde estuda, o bairro em que mora
etc, tudo era sem história, bastava mostrar. Só vale o último capítulo. O que é
um problema. Se você perder tudo, nada te garante no tempo. Está sempre
dependendo da demonstração da última sexta-feira.”
Christian Dunker |
A situação mudou a partir da Constituição de 1988, a partir do fortalecimento
da política fiscal, do Poder Judiciário,
da sociedade organizada e do surgimento do próprio PT que levantou entre nós as
contradições da corrupção.
Diz o psicanalista e professor da Universidade de São Paulo
(USP) Christian Dunker que a “grande mutação positiva que está acontecendo é
que a gente não aceita mais isso, se tornou um ridículo social. Não o cara que
ostenta, mas o que ostenta sem poder dizer como chegou ali. Esse é o lado bom
da controvérsia sobre a corrupção, tem uma parte desse discurso rançoso que
está dizendo uma coisa positiva, não aceitamos mais ostentação de símbolos
culturais de riqueza sem uma história.”
O cidadão pode ser rico, riquíssimo, mas precisa ter uma
história lógica dentro do capitalismo para aquela riqueza, não pode ser um
Pablo Escobar.
Leia toda a entrevista, clicando aqui.
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*Hélio Consolaro é
professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de
Araçatuba-SP
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