Projeto de utilização da água pluvial nas escolas de Gramado reduz consumo e incentiva sustentabilidade entre alunos
A água da chuva que escorria telhado abaixo tem um novo destino nas escolas da rede municipal de Gramado, no Rio Grande do Sul. Escoando por calhas para dentro de cisternas e canos, agora ela é utilizada para irrigação de jardins, hortas, higienização em descargas sanitárias e limpeza de salas de aula e corredores. O projeto foi lançado pelo Rotary Club de Gramado (distrito 4670) durante as comemorações dos seus 50 anos, em 2009, e já está em pleno funcionamento em seis escolas – metade da meta planejada pelo clube até a conclusão da iniciativa, marcada para 2019.
Além de aproveitar a água que seria desperdiçada pelo ralo, o projeto incentiva a sustentabilidade e o cuidado com esse líquido indispensável à vida. “Não é só a diminuição do consumo e do valor da conta de água”, enfatiza o rotariano Ary Werlang. “O principal benefício é a formação de uma nova consciência entre as crianças. É criar uma mentalidade para a preservação do meio ambiente.”
Lição de sustentabilidade
Sistema reduz consumo de água potável em 40% e amplia consciência ambiental dos alunos
No momento, os rotarianos de Gramado trabalham na implantação do projeto em mais três escolas. A lógica do sistema de captação é bastante simples: são instaladas calhas nos telhados que levam a água da chuva até uma cisterna de armazenamento, de onde ela é distribuída por uma rede específica de torneiras e canos, para não se misturar à água potável (confira a ilustração das páginas 38 e 39).
“O sistema reduz o consumo de água em 40%. Na Escola Municipal Henrique Bertoluci Sobrinho, primeira a ser contemplada, a conta de água baixou de 400 reais para 170 reais”, explica o rotariano José Almiro Barros.
Os custos de instalação são divididos entre o Rotary e a Prefeitura de Gramado. Além da mão de obra, a administração municipal arca com as calhas, material elétrico e hidráulico, e rede de distribuição. Já o Rotary Club é responsável pelo projeto arquitetônico, pelas taxas, cisterna, caixa d’água para distribuição, bombas e boias.
EM SALA DE AULA E ALÉM
O uso da água da chuva nas escolas de Gramado possibilita lições aos alunos em diferentes áreas de estudo. “Além da questão ambiental, é possível usar o projeto em disciplinas como a matemática. Os alunos podem, por exemplo, calcular a economia que o sistema possibilita. Não é só trocar água potável por não potável para fazer a limpeza da escola, o projeto é muito amplo”, destaca Ary Werlang. “Em média, cada escola tem 300 alunos matriculados. Eles levam tudo aquilo que aprendem com o projeto para casa”, diz José Almiro Barros.
Diretora da Escola Henrique Bertoluci Sobrinho, Ticiana Haas concorda: a contribuição do projeto ultrapassa os portões da escola. “Notamos que os alunos atuam como fiscais uns dos outros para o consumo consciente. É possível trabalhar a consciência ecológica desde a base. Entre os alunos menores, especialmente, as lições são ensinadas e compreendidas com mais facilidade”, ela afirma.
Além do consumo racional, o projeto contribui para outras ações ambientais desenvolvidas na escola. Em tempos de epidemia de dengue e outras doenças, a diretora frisa que a iniciativa também estimula os alunos a atuarem no combate ao mosquito Aedes aegypti. “Os cuidados com o uso da água em geral evoluíram. Todos estão mais conscientes e preocupados”, observa a diretora.
Exemplo para toda a cidade
Projeto do Rotary serviu de modelo para criação de decreto
Parceria bem-sucedida: Ticiana Haas, diretora da Escola Henrique Bertoluci Sobrinho, recebe os rotarianos Ary Werlang, Melânia Fetzner e José Almiro Barros |
A iniciativa do Rotary Club de Gramado desperta mais do que a consciência para a sustentabilidade entre os estudantes: ela foi o pontapé inicial para mudar o senso coletivo de toda uma cidade. Com base no projeto, a Prefeitura de Gramado criou um decreto tornando obrigatória a captação de água da chuva em todas as novas construções de grande porte da cidade. Estão contemplados hotéis e pousadas, além de projetos plurifamiliares, comerciais e industriais. O decreto foi incorporado ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Rural em dezembro de 2015.
O texto não obriga as obras existentes a instalar cisternas, mas a ideia de sustentabilidade tem conquistado adeptos. “Hoje, existem empresas especializadas na fabricação de equipamentos para coleta de água pluvial. Está cada vez mais fácil executar o sistema. O índice pluviométrico de Gramado é bastante elevado e contribui para a captação. Um número cada vez maior de pessoas está aderindo ao método”, conta José Almiro Barros.
A parceria do Rotary com a prefeitura só tem gerado bons frutos. Para a secretária de Educação, Julita Andreis, o caráter educativo para a preservação da natureza é o principal ganho do projeto. “Sabemos que a água é um recurso finito e que precisamos evitar seu consumo excessivo. O uso das cisternas nas escolas tem caráter pedagógico, desde a educação infantil até o ensino médio. Os alunos observam o funcionamento do sistema e aprendem como uma ideia simples pode ser fundamental para o futuro do planeta”, resume.
Ideia multiplicada
Julita diz que os alunos atuam como multiplicadores da ideia de sustentabilidade: “Em cada escola, temos uma comunidade envolvida. Além dos alunos, temos todas as famílias. São grandes grupos de pessoas com pensamentos diferentes que devem ser inseridos no contexto para compartilhar a ideia. Trazendo a comunidade para dentro da escola o projeto pode gerar resultados muito positivos.”
Ela acredita que a iniciativa pode servir de modelo de boas práticas pedagógicas e de gestão de recursos econômicos. “O compartilhamento de ideias tem surtido efeito positivo na sociedade. Bons projetos podem ser copiados e valorizados. Os exemplos são passados de município para município.”
Além de todos esses estímulos, os associados ao Rotary Club de Gramado têm um motivo especial para seguir com o projeto até sua conclusão, daqui a três anos: prestar um tributo à memória de Eleonore Böse Cunha. Presidente do clube no ano em que a ideia foi concebida, ela faleceu subitamente durante uma viagem turística pela Croácia em setembro do ano passado. “Eleonore criou o projeto. Queria uma iniciativa sustentável nas escolas”, relembra José Almiro Barros. “Tocaremos tudo isso até o final também como forma de homenageá-la.”
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