AGENDA CULTURAL

25.8.16

Éder Camargo, o primeiro livre-docente cego do Brasil

Referência no ensino superior na região de Araçatuba, professor universitário carregou a Tocha Olímpica na cidade-natal dele

DA REDAÇÃO - ARAÇATUBA - O LIBERAL, 02/08/2016
Até conquistar título mais nobre do ensino superior, Eder Pires de Camargo superou muitos obstáculos (Reprodução/Facebook)

Com livros publicados e uma referência no ensino superior na região de Araçatuba, o professor Eder Pires de Camargo, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), ganha cada vez mais visibilidade nacional. Recentemente, ele concedeu entrevistas à grande mídia para falar sobre como foi ter se tornado o primeiro livre-docente com deficiência visual no Brasil.


Relatando a história dele de traz para frente, no começo da semana passada, Camargo foi um dos personagens que carregou a Tocha Olímpica, símbolo dos jogos olímpicos Rio 2016, na terra-natal dele, o município de Lençóis Paulista.

momento, aliás, foi um dos mais marcantes de todo o revezamento. Desde a entrada no Santuário até o palco da Praça Comendador José Zillo (concha acústica), o professor foi ovacionado pelas centenas de alunos da rede municipal de ensino que formavam um cordão humano para sua passagem.

Para entender o motivo de tanto reconhecimento, é preciso saber que, aos 9 anos de idade, Camargo começou a perder a visão por causa de uma doença na retina. A deficiência visual não foi um impedimento para ele se formar na faculdade de Física, fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado.

MÉRITO
Mais recentemente, no semestre passado, ele conquistou a livre-docência. Com isso, tornou-se o primeiro deficiente visual que se tem notícia no Brasil a obter este título. “Realmente, conquistei todos os títulos e formação por mérito. Eu penso que isto é um fator importante, e agora não falo especificamente de mim, mas utilizo meu caso como um símbolo. Um cego chegar a este nível dentro de uma universidade é algo complexo”, afirmou.

Segundo ele, ao longo dos seus 43 anos de vida, sempre teve que recorrer, na maior parte das vezes, a materiais de leitura e pesquisas feitos para quem consegue enxergar. “Hoje já se encontra muita coisa que pode ser ouvida por dispositivos em computador. Mesmo assim, há processos complexos de escaneamento, transformação de textos em imagens e arquivos (PDF), em textos acessíveis para cegos poderem lê-los, e este processo também de leitura é algo desgastante e difícil.“

TELEVISÃO
Recentemente, foi a vez de contar essa experiência em rede nacional, no programa “Encontro”, apresentado pela jornalista Fátima Bernardes (TV Globo). Durante a apresentação, ao vivo, o docente pôde apresentar uma de suas obras, o livro “Saberes docentes para a inclusão do aluno com deficiência visual em aulas de física”.

Atualmente, Camargo faz parte do programa de pós-graduação em Educação para a Ciência, da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru, e do departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia, de Ilha Solteira. 

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