Hélio Consolaro*
Eu podia deixar este assunto de lado, mas um cronista não
pode se omitir diante de assunto tão importante. A indignação se completou
recentemente, quando não sou mais secretário municipal de Cultural. Agora,
posso escrever.
Em maio de 2013, o proponente de “Liberdade Sempre –
Exposição Multimídia e Amostra de Documentários”, professor Euclides Garcia
Paes de Almeida, aprovado pelo Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Araçatuba,
promoveu na Biblioteca Municipal Rubens do Amaral a primeira apresentação de
seu sonhado projeto, ajudado por Marcos Ianner. Não fazia parte da proposta ter
um festival de filmes no teatro municipal Paulo Alcides Jorge, mas quiseram
enriquecer a exposição.
Naquela época, estava sendo lançado o documentário "O
Dia que Durou 21 Anos", sobre a Ditadura Militar, direção de Camilo
Tavares, da Pequi Filmes, coprodução da TV Brasil (pública) e com verbas do
incentivo fiscal. Era o mesmo tema do projeto de Araçatuba.
E assim a Folha da Região, jornal de Araçatuba, noticiou a
programação da exposição, que foi reproduzido no seu site. E a tal de Pequi
Filmes viu que o filme estava incluso numa programação de evento público em
Araçatuba pela internet.
Uma foz feminina que se dizia representante da Pequi Filmes
me telefonou dizendo cobras e largartos, me distratando, aos gritos, dizendo
que ia processar a Prefeitura de Araçatuba, porque geralmente prefeitura tem
muito dinheiro para pagar indenização por crime de pirataria.
Chamei o professor Euclides, pedi que suspendesse a
apresentação de todos os filmes, já que eles não constavam do projeto. A minha
determinação foi acatada.
Professor Euclides, inocentemente, disse que pensou não
haver problemas, pois quem produziu o filme era um pessoal da esquerda.
Eu lhe respondi:
- Há gente da esquerda que gosta mais de dinheiro do que
capitalista, meu amigo!
Marcos Ianner, com todo cuidado, me disse que a TV Brasil
havia disponibilizado o documentário no YouTube, de onde ele puxou a cópia. Entramos
no site, havia no lugar uma nota que ele havia sido retirado.
Como secretário municipal de Cultura da época, mandei um
ofício para uma pessoa chamada “Karla Ladeia”, conforme me foi indicado,
dizendo que o filme não ia ser apresentado. E o assunto foi encerrado.
Embora eu tenha sido vítima da Ditadura Militar, processado
e absolvido, nem quis ver o documentário depois da grosseria da Pequi Filmes. Até
então, eu não sabia que havia dinheiro público na produção do documentário.
Professor Euclides recebe alunos na exposição de seu projeto na biblioteca municipal Rubens do Amaral |
Ontem, 28/10/2016, liguei a TV no canal Curta, porque lá
sempre há uma excelente programação histórico-cultural, quando ia iniciar o
documentário. E vi nos créditos todos os órgãos públicos financiadores do
filme.
Por que estou escrevendo isso? Para engrossar a denúncia de
que há muito espetáculo (não em Araçatuba) financiado pelo poder público que a
população paga, e caro, para vê-lo depois de pronto, como aconteceu, por
exemplo, com Circo Soleil no Brasil.
A pessoa da Pequi Filmes que me tratou mal, espero que não
seja a Karla Ladeia, sabia que o documentário havia sido financiado pelo
governo e que seria apresentado por um projeto financiado por um fundo público.
A conversa podia ter sido diferente, mas houve falta de compromisso com o
dinheiro público.
É assim que os projetos culturais andam perdendo o crédito.
*Hélio Consolaro, professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras.
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