Psicologia e Comportamento - Revista Pazes, novembro de 2016
“Vivemos um tempo de secreta angústia: o amor é mais falado
que vivido”
Texto de Luciana Chardelli
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman declara que vivemos em um
tempo que escorre pelas mãos, um tempo líquido em que nada é para persistir.
Não há nada tão intenso que consiga permanecer e se tornar verdadeiramente
necessário. Tudo é transitório. Não há a observação pausada daquilo que
experimentamos, é preciso fotografar, filmar, comentar, curtir, mostrar,
comprar e comparar.
O desejo habita a ansiedade e se perde no consumismo
imediato. A sociedade está marcada pela ansiedade, reina uma inabilidade de
experimentar profundamente o que nos chega, o que importa é poder descrever aos
demais o que se está fazendo.
Em tempos de Facebook e Twitter não há desagrados, se não
gosto de uma declaração ou um pensamento, deleto, desconecto, bloqueio.
Perde-se a profundidade das relações; perde-se a conversa que possibilita a
harmonia e também o destoar. Nas relações virtuais não existem discussões que
terminem em abraços vivos, as discussões são mudas, distantes. As relações
começam ou terminam sem contato algum. Analisamos o outro por suas fotos e
frases de efeito. Não existe a troca vivida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um isolamento protetor,
vivenciamos uma absoluta exposição. Não há o privado, tudo é desvendado: o que
se come, o que se compra; o que nos atormenta e o que nos alegra.
O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de
secreta angústia. Filosoficamente a angústia é o sentimento do nada. O corpo se
inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna
vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos.
“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”.
Zygmunt Bauman
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