Hélio Consolaro*
A sociedade não sabe muito lidar com os seus malucos,
aqueles que fogem da medíocre normalidade. Quase sempre acabam rotulados, sendo
motivo de zombaria ou marginalizados. Sou um deles.
Quando esse maluco ou maluca consegue vencer a barreira da
sociedade, ele vai ser artista, escritor, atleta ou se tornar um tirano dela
mesma. Nenhum ditador é normal.
Estou fazendo esse preâmbulo para falar sobre o empresário
recentemente falecido, o nissei Tim Ussui. Ele fazia discursos imensos nas
solenidades do Rotary, mas o tamanho de sua fala era proporcional à ajuda que
dava em dinheiro à Fundação Rotária.
Até que um dia cassaram a palavra dele. Não falou mais, não
sei se as compras de títulos Paul Harris da Fundação Rotária continuaram como
era antes. Quando o discurso dele não era aceito, mudava de clube, chegou a
participar de clubes de outras cidades. Ele comprava os títulos, mas queria
mandar. A bondade se tornava um problema.
Foi um empresário, deixou um patrimônio significativo para a
família, dirigiu uma empresa por décadas (com a ajuda da esposa, Dona Nilce), mas
nunca deixaram que ele fosse presidente de um clube no Rotary ou da Associação
Cultural Nipo-Brasileira. Não é mesmo estranho? O Tim só era bom na hora de
abrir a carteira.
Não estou pichando o Rotary, do qual faço parte, nem a Nipo,
a humanidade é assim. Se estivesse noutras entidades, aconteceria o mesmo.
A sua maior dor era a morte precoce de seu filho Marcelo. Depois de três filhas, veio o varão, aquele que certamente ia dirigir a empresa
Vidraçaria Real, gerenciar os negócios. O Tim comprava carros caros, mas vivia
com eles arranhados e amassados, mas o Marcelo não teve a mesma sorte, faleceu
vítima de um acidente automobilístico.
Suas filhas estão todas bem formadas, havendo médica entre
elas, mas todas moram na capital, uma delas, no exterior. E assim, Tim e Nice,
católicos fervorosos (Igreja São João), nascidos em Araçatuba, envelheceram.
Tim usava as frutas para manifestar seus sentimentos. Aos
domingos, ia à Ceasa e enchia o porta-malas com elas e saía distribuindo-as,
como Papai Noel, aos amigos, batendo à porta de suas casas. Quando ele deixava
de entregar as frutas para alguém, é porque a amizade estava abalada.
Tim soube ser ele mesmo, deu uma banana, que não é fruta, para quem não o
aceitava como é; quando foi preciso, usou a linguagem das moedas, o vil metal.
A mediocridade que curvasse a espinha.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro
da Academia Araçatubense de Letras.
Um comentário:
Grande Consa, profundo observador e conhecedor da alma humana! Até um acontecimento como este, a hora da partida daqui para outro mundo, faz com que ele nos brinde com esta análise da personalidade de um amigo ou conhecido, e revela como são as hipócritas relações humanas...
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