Shofie Deram e capa do livro - 320 páginas |
Por Thaís Lara - nutricionista
Muitas das pessoas que passaram em consulta comigo neste ano
me ouviram falar no livro da nutricionista Sophie Deram, O Peso das Dietas. Eu
li no início de 2015, e desde então está entre meus planos escrever um post
sobre ele. O livro explora e sustenta muitos motivos para não seguirmos (ou
como nutricionistas, prescrevermos) nenhum tipo de dieta ou restrições
alimentares severas, e sim voltarmos a nos alimentar com prazer e sem culpa.
o peso das dietas sophie deram
Em um evento de discussão do livro “O Peso das Dietas” que
participei com a Sophie Deram, em março de 2015. Esta imagem foi postada no
instagram @blognutrirbem
Eu já conhecia a Sophie e passei a admirá-la ainda mais
depois que li o livro. Concordo bastante com seu posicionamento, e muitas das
minhas condutas são baseadas nesta mesma linha: contra restrições alimentares
severas e terrorismo nutricional e a favor do prazer em comer, da reeducação
alimentar e respeito ao corpo e organismo. Isto é, cuidar do comportamento
alimentar, pois já sabemos que como se come é tão importante quanto o quê e
quanto se come. Este post é um resumo de alguns trechos do livro que separei
pois fizeram muito sentido para minha vida pessoal e prática clínica, pois
expõem os principais argumentos que conduzem as condutas e pensamentos que
citei à cima.
Perda de peso rápida:
Nosso organismo e cérebro não entendem a perda de peso como
um objetivo estético ou como sucesso, e sim como uma ameaça, e por isso,
desenvolvem mecanismos de adaptação para nos proteger: aumentam o apetite,
reduzem o metabolismo, e aumentam a vontade por alimentos. Isso tudo nos induz
a comer e evita com que entremos em algum tipo de “perigo” por perder gordura.
Nosso metabolismo é inteligente e sua programação não vai seguir uma
determinada direção apenas por que nós, racionalmente, queremos perder peso.
Medidas rápidas e extremas para perda de peso ou aumentar exageradamente a
musculatura, por exemplo, são agressivas ao nosso cérebro e o faz acreditar que
estamos correndo perigo. Pensando que provavelmente foram necessários alguns
meses ou anos para que se chegasse no peso atual, é importante lembrar que
também irá levar um certo tempo para que nosso corpo e cérebro se acostumem à
mudanças que promovermos – de alimentação ou atividade física, por exemplo.
Impulsões, compulsões e culpa:
São crises que normalmente vêm junto com a perda de peso
rápida. É certo que gordura e açúcar dão mais sabor aos alimentos, e resistir à
eles é difícil pois são promotores de prazer. Mas como nas dietas tradicionais
estes alimentos são proibidos, quando os comemos ficamos com o sentimento de
culpa, ainda que o tenhamos comido em pequeníssimas quantidades.
Mas, muitas vezes, junto com a culpa, vem o pensamento de
“já que estraguei minha dieta com uma mordida, vou logo comer o bolo inteiro”.
Pronto, neste momento instalou-se uma crise compulsiva, que só gera mais culpa,
baixa auto estima, sensações de fracasso e falta de força de vontade. No fim,
em meio a tantos sentimentos negativos, acabamos não aproveitar o momento e
sentir o prazer em comer aquele alimento, que foi tão desejado.
Em um trecho do livro, a Sophie faz uma excelente metáfora
entre a perda de controle no consumo alimentar e a respiração. Palavras dela:
“Quando paramos de respirar, podemos segurar o ar por um tempo, mas, de
repente, vem uma inspiração salvadora que está além do nosso controle. (…) A
compulsão é um impulso devido às restrições e está muito além da força de
vontade. A pessoa precisa de ajuda para sair desse circulo vicioso.” Quanto
mais restrições alimentares forem feitas, maiores e mais frequentes serão as
descargas compulsivas, e mais culpa será envolvida no processo.
Comer com prazer e comer consciente:
Já falei bastante sobre prazer em comer neste post (Post:
Prazer em comer, sim, obrigada) e neste post (Post: Vontade de doce após as
refeições: como lidar?), mas a Sophie afirma a todo tempo no seu livro o quanto
ela também considera isto importante.
Algumas vezes, ter a liberdade de comer o que se gosta pode
gerar euforia e exagero nas quantidades. Mas geralmente este é um efeito
passageiro, pois pelo simples fato de tirar a proibição de determinado
alimento, a pessoa passa consumi-lo com prazer, apreciar o alimento e o
momento, e então grandes quantidades deixam de ser necessárias.
E isto é parte do que se chama comer consciente. É comer com
calma, com prazer, observando cores, aromas, texturas e sabores dos alimentos
consumidos, e mastigar bem. É ter atenção plena ao que se come, estar presente
e atento ao momento da refeição, sem distrações externas, para poder escutar e
reconhecer bem os sinais de fome e saciedade. Então aí sim, sentir o real
prazer em comer.
Por estes e tantos outros motivos, eu continuo levantando a
bandeira de que a melhor e mais sustentável forma de emagrecer, é retomar o
prazer em comer, retomar a conexão com o corpo, os sentimentos de fome e
saciedade. Só assim podemos respeitar e ajudar o organismo a entender que a
perda de peso não é uma agressão. Dietas restritivas e modismos alimentares vão
no exato oposto a tudo isso… Procure orientação profissional para encontrar o
melhor caminho para você!
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Thais Lara |
Fui a criança que gostava de brócolis e chicória, que comia salada antes do arroz com feijão, e adorava me aventurar na cozinha com receitas anotadas dos programas de TV. Por isso, uma nutricionista por formação, vocação e paixão, nunca me imaginei trabalhando com outra coisa!
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Apresentadora Rita Lobo se irrita e critica 'medicalização da alimentação'Ela disse sentir pena quando alguém troca farinha por fécula e manteiga por óleo de coco para deixar o bolo mais saudável
Agência Estado
Rita Lobo, apresentadora do programa de gastronomia Cozinha prática com Rita Lobo, do GNT, e do canal no YouTube Panelinha, homônimo ao site mantido por ela, e autora de livros sobre o assunto, usou sua conta no Twitter para criticar a "ideia errada de alimentação saudável". "Por que você não ensina maionese com óleo de coco e iogurte, em vez de gema e óleo?", perguntou uma internauta. "1) porque não é maionese; 2) trate seu distúrbio alimentar", escreveu a paulista no microblog.
A repercussão foi grande e muitos seguidores responderam, tanto com críticas quanto com elogios, pelo uso do termo "distúrbio alimentar". "Medicalizar a alimentação é distúrbio. Coma comida, não nutrientes. Coma variado e os nutrientes estão garantidos. Exclua ultraprocessados", explicou Rita, que ainda sugeriu que as pessoas lessem o "Guia Alimentar para a População Brasileira", elaborado pelo Ministério da Saúde.
A discussão se estendeu e, na terça-feira (14), a apresentadora disse que sente pena quando a pessoa troca farinha por fécula e manteiga por óleo de coco para deixar o bolo mais saudável. "Demonstra um enorme desentendimento sobre alimentação: não existem alimentos bons ou ruins", tuitou. "A chamada medicalização da alimentação transforma a comida em inimigo e acaba com o prazer de comer".
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