Mas os marmanjões, como este cronista, não desmamam nunca, sou um bebedor diário de leite, embora goste também de cerveja
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Ordenha feita mecanicamente |
Hélio Consolaro*
No noticiário regional, município de Lins-SP quer estimular
a pecuária leiteira. O assunto mexe com as tetas das vacas a cada cria. A
pecuária de corte é mais cruel, quer a carne do bovino, mata-o.
Ainda adolescente, eu era um anotador de experiências
científicas com rebanho na antiga Fazenda do Estado, oficialmente conhecida
como Posto Experimental da Criação, cujo recinto de exposição Alcides Fagundes Chagas
era parte dela.
Lá descobri que a raça nelore só dá carne e a holandesa, só
leite. E os zootecnistas queriam fazer, naquela época, do gado guzerá, uma raça
boa produtora de leite e de carne por meio do aprimoramento genético. Na década
de 60, há mais de 50 anos, já se trabalhava com a inseminação artificial e
usava cerca elétrica para dividir pastagens.
Quis explicar isso para que o leitor conheça melhor este
croniqueiro, não sou tão xucro no assunto, pois vou escrever sobre o consumo de
leite.
Nós, seres humanos, temos contato com leite pelos seios da
mãe, o leite materno. Os homens, principalmente, começam a mamar e não largam
mais, porque os seios têm duas funções: sustentar a criança e sustentar o amor.
No fundo, as duas coisas se reduzem ao amor.
Como nem todas as mães humanas são boas produtores de leite,
então as crianças ingerem o leite da vaca (ou cabra) processado, em pó ou
pasteurizado. Lá vem as mamadeiras. Mas houve época em que o leite da vaca
passado para as crianças era só fervido, como forma de higienizá-lo.
Mas os marmanjões, como este cronista, não desmamam nunca,
sou um bebedor diário de leite, embora goste também de cerveja. Ingerindo estas
duas bebidas tidas como incompatíveis entre si, descobri que faço mais barulho
tomando cerveja com amigos do que bebendo leite com a família. Há quem diga que
ninguém faz amigos bebendo leite, mas com ele se cria um bebê.
A famosa lactose é a rejeição do organismo ao leite. Tenho
um amigo que só teve uma vida regular depois que parou de tomar leite, nem
sabia que isso se chamava lactose.
Roubamos o leite bovino dos bezerros para tomá-lo, assim mamamos
na vaca indiretamente. Passamos a criar vacas em confinamento, ter retiros,
inventamos as ordenhadeiras mecânicas. Então construímos os laticínios, as fábricas de leite em pó, a
manteiga, as guloseimas feitas de leite. Você percebeu, caro leitor, como somos
cruéis. E na Ásia e na África, as pessoas tomam o leite apenas enquanto criança,
os adultos não conseguem conviver com a lactase. Não há essa mamação generalizada.
Aqui há o cruzamento do bar e o lar: porque estar “mamado”
pode ser que o bebê já ingeriu leite, mas significa também que o sujeito está
bêbado.
P.S. Por que escrever um texto tão óbvio? Eu também me perguntei. Apenas para esclarecer às novas gerações que o leite não é feito na padaria, no supermercado, nem nasceu na caixinha.
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*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da
Academia Araçatubense de Letras
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