AGENDA CULTURAL

28.11.17

Literatura africana

Hélio Consolaro*

Apesar de ser um leitor, a minha escolha dos livros seguia sempre o mesmo caminho. A partir de minha assinatura mensal do TAG – Experiências Literárias (www.taglivros.com.br) mandam um livro a critério deles. Nem sempre literatura brasileira, que é a minha preferida.

Todo mês entregam na porta de minha casa a tarefa prazerosa: a sua leitura deste mês é esta. E posso confiar porque no conselho de curadores só há escritores bons, até prêmio Nobel. E também o TAG manda na caixinha um livreto de informações sobe o livro e um brinde literário. Posta no site resenhas e análises críticas dos livros remetidos, escritas e em vídeos para ajudar o leitor na interpretação das obras.

Em outubro/2017, para surpresa minha, veio um livro da literatura africana, cuja obra não fora escrita por escritor branco, como Mia Couto, mas por uma mulher negra. “As alegrias da maternidade” não tinha sido publicado em português, o TAG foi pioneiro em lançar o livro da literatura inglesa, nigeriana, da escritora Buchi Emecheta (Florence Onebuchi Emecheta) no Brasil. Como a Nigéria é uma colonização inglesa, daí o livro ser da literatura dessa língua. 

Nesse meu primeiro ano de sócio do TAG, recebi livro na caixinha indicado até por Mario Vargas Llosa (O Leopardo, de Giuseppe Tomasi). Quem houvera sugerido o livro “As alegrias da maternidade”, de Buchi Emecheta? Nada menos que outra escritora africana, negra, Chimamanda Ngozi Adichie, curadora do TAG. Também uma escritora nigeriana, nascida em 1977, 40 anos de idade, com obras traduzidas em mais de 30 idiomas. Ela atribui o seu sucesso a Buchi Emecheta, nascida em 1944 e falecida em janeiro de 2017).
 
Buchi Emecheta
Que conta o livro “As alegrias da maternidade”, que mais parece um livro de autoajuda? Na verdade, a ironia já começa no título. Trata-se da história de uma mulher africana vivida na tribo Igbo numa sociedade nigeriana que se ocidentaliza. A autora não ideologiza o tema e nem torna o livro uma bandeira feminista. Pode-se dizer que é pela mulher, mas sem feminismo.

Para o leitor que conhece a África de forma longínqua, a leitura mostra a cultura africana por dentro, nos seus detalhes, como as tribos são machistas e patriarcais. A poligamia institucionalizada, a desvalorização da mulher estéril, o casamento arranjado em troco de um dote. Ler o livro de Buchi Emecheta é menos chocante que assistir às novelas angolanas na TV Brasil, onde quase todos os atores são negros.

Se depreende do livro o processo violento da colonização da África pelos europeus, mas todas as denúncias não ficam em primeiro plano, a função literária da linguagem é priorizada. Buchi Emecheta quer mesmo é contar a história, prender o leitor, não deixá-lo escapar. O uso social da obra não está sob o controle de seu autor, como dizia João Cabral de Melo Neto sobre “Morte e Vida Severina”. 

No aplicativo da TAG (celular), onde os leitores registram suas opiniões, todos se surpreenderam com a leitura, porque receberam o livro com certa desconfiança.

Vale a pena ler o livro e aderir ao TAG.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras.

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