Vovô bonitão!

Hélio Consolaro*

A vivência familiar é cheia de surpresas, principalmente quando há crianças, e se ela for de certa forma harmoniosa. Com cinco netos, nestes festejos de fim de ano, haveria de acontecer fatos fora do script. 

Procuro ter com cada neto uma frase, uma brincadeira, porque assim o papel de avô fica mais agradável. O Caio, três anos, por exemplo, não se incomoda que o chamo de "Porqueira". Assim, grito: "Caio Porqueira", e ele responde imediatamente: 

- Vô Porqueira!   

Hélio Consolaro e netos - junho 2016

Assim, ficamos elas por elas. Mas outro dia, meu genro entrou em minha casa meio chateado, meio rindo. E me disse:

- O senhor me apronta cada uma, hein?

Logicamente, eu quis saber qual era a minha peraltice. A Elis, minha neta, filha dele, com cinco anos, esperta e mordaz com tenra idade, quando eu digo: "Elis, a menina mais bonita do país", a resposta incontinente é "Vovô bonitão" e a gente ri muito. Pura rasgação de seda. 

Se ela não estiver bem humorada, a resposta é outra: "Vovô feião". Aí faço cara de triste, ela muda a frase. E quando ela não quer rimar: "Vovô chiquérrimo." Jogo de palavras.

Vovô Consa rindo com sua neta Luísa

Noutro dia, o pai dela, meu genro, foi me imitar sem a minha presença. Ele disse em voz alta:  "Elis, a menina mais bonita do país!". E a resposta veio: "Vovô bonitão!".  A frustração dele é que não veio a frase: "Papai bonitão!". 

Qual foi o recado que ela mandou? Como a dizer, essa frase não é a sua, a nossa comunicação é outra. Essa daí é do vô.

Quando ele contou isso, rimos muito. Assim, como avô rio, faço graça, cheio de brincadeiras, para não ser um velho sem graça.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras