Tive a honra de ser convidado pelo Sesc de Birigui para fazer um texto sobre o rio Tietê, como parte da inauguração da nova sede da unidade. Ele está no site da entidade em forma de vídeo e texto:
Tietê, rio teimoso
Hélio Consolaro*
Como o caipira, o rio Tietê é teimoso. Você já viu algum capiau de sunga ou biquíni à beira-mar, passeando pelas praias? Não. O nosso rio também não quis saber de se encontrar com as águas salgadas, preferiu inaugurar a caipiragem.
A nascente do rio fica em Salesópolis, há 22 km do mar, composta por três olhos d’água, mirrada, mais parece um córrego. Assim mesmo, preferiu o caminho mais difícil, andar 1.136 km para jogar suas águas no rio Paraná, na foz, em Itapura-SP.
Mas nós nos imaginávamos tão desligados da natureza, que rio não tinha vida, não tinha história, por isso descobrimos sua nascente em Salesópolis 500 anos depois, em 1954.
O caminho escolhido é difícil, porque beneficia mais gente. A cidade de São Paulo não fica no litoral paulista, mas o rio paulista passa por dentro dela. O Tietê está para São Paulo, como o Tejo para Portugal.
A nossa capital é uma cidade interiorana, um paradoxo. Dos estados brasileiros banhados pelo mar, dos quais São Paulo faz parte, ela preferiu as águas fluviais. É a única capital, como o seu rio principal, que abandonou o mar.
Podemos dizer que São Paulo não seria o estado mais rico do Brasil se não fosse o Tietê. Por suas águas navegam a nossa paulistinidade.
Para os índios, o Tietê foi o caminho da morte; para os brancos, o rio foi a vida, o caminho do desenvolvimento econômico.
Assim mesmo, ingrata, a população foi se aproveitando dele de uma forma nada sustentável. Aliás, falar desse conceito naqueles tempos idos era impossível. A história econômica transformou a calha do rio Tietê num esgoto a céu aberto.
Ainda bem que a história e a própria natureza são dialéticas, de suas próprias entranhas nascem os contraditórios. Descobrimos que somos algozes de rios e estamos aos poucos recuperando a saúde deles.
Enquanto no alto Tietê ninguém ousa nadar nele, diante de sua fetidez, no baixo Tietê pratica-se a pesca, constroem-se ranchos às suas margens. Torna-se um imenso mar com as 11 barragens e duas hidroelétricas em seu percurso. Ele volta a fazer jus a seu nome: Tietê em tupi-guarani significa caudaloso, profundo, que corre para baixo.
O Tietê já transportou os bandeirantes e a cultura caipira em suas águas, como Tonico e Tinoco em São Manuel, mas queremos mais dele: que se complete como hidrovia.
Quanto mais conhecemos este rio, mais nos apaixonamos por ele e descobrimos que suas águas correm em nossas veias.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba, 2009-2016.
Tietê, rio teimoso
Hélio Consolaro*
Como o caipira, o rio Tietê é teimoso. Você já viu algum capiau de sunga ou biquíni à beira-mar, passeando pelas praias? Não. O nosso rio também não quis saber de se encontrar com as águas salgadas, preferiu inaugurar a caipiragem.
A nascente do rio fica em Salesópolis, há 22 km do mar, composta por três olhos d’água, mirrada, mais parece um córrego. Assim mesmo, preferiu o caminho mais difícil, andar 1.136 km para jogar suas águas no rio Paraná, na foz, em Itapura-SP.
Mas nós nos imaginávamos tão desligados da natureza, que rio não tinha vida, não tinha história, por isso descobrimos sua nascente em Salesópolis 500 anos depois, em 1954.
O caminho escolhido é difícil, porque beneficia mais gente. A cidade de São Paulo não fica no litoral paulista, mas o rio paulista passa por dentro dela. O Tietê está para São Paulo, como o Tejo para Portugal.
A nossa capital é uma cidade interiorana, um paradoxo. Dos estados brasileiros banhados pelo mar, dos quais São Paulo faz parte, ela preferiu as águas fluviais. É a única capital, como o seu rio principal, que abandonou o mar.
Podemos dizer que São Paulo não seria o estado mais rico do Brasil se não fosse o Tietê. Por suas águas navegam a nossa paulistinidade.
Para os índios, o Tietê foi o caminho da morte; para os brancos, o rio foi a vida, o caminho do desenvolvimento econômico.
Assim mesmo, ingrata, a população foi se aproveitando dele de uma forma nada sustentável. Aliás, falar desse conceito naqueles tempos idos era impossível. A história econômica transformou a calha do rio Tietê num esgoto a céu aberto.
Ainda bem que a história e a própria natureza são dialéticas, de suas próprias entranhas nascem os contraditórios. Descobrimos que somos algozes de rios e estamos aos poucos recuperando a saúde deles.
Enquanto no alto Tietê ninguém ousa nadar nele, diante de sua fetidez, no baixo Tietê pratica-se a pesca, constroem-se ranchos às suas margens. Torna-se um imenso mar com as 11 barragens e duas hidroelétricas em seu percurso. Ele volta a fazer jus a seu nome: Tietê em tupi-guarani significa caudaloso, profundo, que corre para baixo.
O Tietê já transportou os bandeirantes e a cultura caipira em suas águas, como Tonico e Tinoco em São Manuel, mas queremos mais dele: que se complete como hidrovia.
Quanto mais conhecemos este rio, mais nos apaixonamos por ele e descobrimos que suas águas correm em nossas veias.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba, 2009-2016.
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