Hélio Consolaro*
(Esta crônica está no livro "Analógicos e Digitais - crônicas de cidadania" do Consa.)
Algumas escolas, as mais gulosas, que tentam responder durante as suas aulas a perguntas que nenhum aluno fez, iniciaram suas aulas. Mal sabem que a escola é muito útil no amadurecimento dos alunos porque reúnem gente da mesma faixa etária. Não se trata do conteúdo apenas.
- Começar mais cedo é fazer marketing - dizem os donos de escolas particulares.
Para as crianças, terminou o tempo bom de férias. Para os pais, juntos ou separados, avós e tios, iniciou o tempo bom das aulas.
Assim se livram de tanto trabalho com os pirralhos. Apesar de que vivem nos joguinhos do celular, mas assim mesmo azucrinam com suas desarrumações.
- Essas professoras com duas férias por ano! É mordomia... A reforma trabalhista não acabou com isso? - falam as mães.
- Essas mães põem filhos no mundo e depois não querem cuidar, pensam que professora é sinônimo de babá. E vem buscar os filhos com aqueles shorts escandalosos... - diz uma professora na reunião pedagógica da escola.
Nem vou exercer o direito ao saudosismo, porque as crianças e adolescentes de hoje são como "frangos de granja", em tudo precisa levá-los e buscá-los: escola, natação, inglês, terapeuta, etc.
Aqui em casa, a avó Helena, a coruja, durante as aulas gasta mais gasolina, cadeirinhas fixadas no banco de trás, corre pra cá, corre pra lá, é a vovó táxi. Há gente que aluga vans. Até que é bom, sai da televisão, não fica só no Whatsapp, não tem tempo de dizer:
- Estou com depressão! - a doença do momento.
Outro problema é comprar o material escolar, quanto mais alta a mensalidade da escola, mais exigências. Chegam a indicar o estabelecimento onde os pais devem comprar.
Além disso, agora qualquer boteco vende material escolar em prestações a longo prazo. Ou então comprar nas lojas dos chineses.
Escola pública, por exemplo, oferece até o material gratuitamente para os alunos. Estou me referindo a alunos do ensino fundamental.
A vida é assim mesmo, caro leitor, não adianta se revoltar, virar uma pessoa azeda. E como o azedume anda tomando conta de muita gente! Nem vou dizer-he que vai merecer o céu. Daqui a pouco, os filhos estão grandes, saindo de casa, e você vai virar avó ou avô. Tudo é cíclico.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
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