Hélio Consolaro*
Entre os brasileiros é costume fazer a compra do mês. Muitas famílias dizem agradecidas: "Louvado seja Deus" quando isso é possível. Comprar o possível, procurar o supermercado mais barato que promove sorteios de prêmios.
O maior sonho da família proletária é ter um um Monza, Del Rey, um Fiat Uno 147, um Gol Quadrado, um Fusca para, no dia da compra do mês, chegar em casa com o porta-mala cheio.
Essa compra do mês é feita no dia de pagamento. Aliás, há quem compare o dia do pagamento como a menstruação: uma tensão antes e uma dor de cabeça depois: ansiedade e preocupação.
No dia da compra, quando ela chega, sempre há algo diferente para as crianças, um doce, um pote de sorvete. Na semana que antecede ao pagamento, até a mistura vai rareando-se, é quando se procuram moedas de 10 centavos pelas gavetas.
No dia 7 de fevereiro de 2018, entre 18h e 19h, fui buscar cervejas, garrafas romarinhos, num supermercado popular da cidade. A Helena me disse:
- Vai ter coragem de ir fazer compras naquele supermercado em dia de pagamento?
Respondi que sim, pois aposentado precisa fazer alguma coisa, procurar o mais barato. Estacionar, consegui, mas andei mais para chegar até a loja e voltar com o carrinho cheio.
Se no supermercado popular tudo é muito apertado, com os espaços entre as gôndolas estreitos, os fregueses andam se esfregando, a alegria das pessoas está em poder fazer a compra, garantir o alimento para o mês seguinte.
Se no supermercado de luxo tudo é confortável, o ar condicionado esfria até os corações, corredores largos, os fregueses não se cumprimentam, mal se olham, escolhem o produto mais requintado. Poucos fazem a compra do mês, os carrinhos não são tão grandes. Às vezes, alguns consumidores deixam alguma doação de alimento na caixa de alguma entidade na saída do supermercado para a pobreza esfomeada.
Parodiando Raul Seixas, assim me sento no trono do status, com a boca escancarada de dentes, esperando a morte chegar, achando que estou contribuindo com minha parte
para nosso belo quadro social.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Entre os brasileiros é costume fazer a compra do mês. Muitas famílias dizem agradecidas: "Louvado seja Deus" quando isso é possível. Comprar o possível, procurar o supermercado mais barato que promove sorteios de prêmios.
O maior sonho da família proletária é ter um um Monza, Del Rey, um Fiat Uno 147, um Gol Quadrado, um Fusca para, no dia da compra do mês, chegar em casa com o porta-mala cheio.
Essa compra do mês é feita no dia de pagamento. Aliás, há quem compare o dia do pagamento como a menstruação: uma tensão antes e uma dor de cabeça depois: ansiedade e preocupação.
No dia da compra, quando ela chega, sempre há algo diferente para as crianças, um doce, um pote de sorvete. Na semana que antecede ao pagamento, até a mistura vai rareando-se, é quando se procuram moedas de 10 centavos pelas gavetas.
No dia 7 de fevereiro de 2018, entre 18h e 19h, fui buscar cervejas, garrafas romarinhos, num supermercado popular da cidade. A Helena me disse:
- Vai ter coragem de ir fazer compras naquele supermercado em dia de pagamento?
Respondi que sim, pois aposentado precisa fazer alguma coisa, procurar o mais barato. Estacionar, consegui, mas andei mais para chegar até a loja e voltar com o carrinho cheio.
Se no supermercado popular tudo é muito apertado, com os espaços entre as gôndolas estreitos, os fregueses andam se esfregando, a alegria das pessoas está em poder fazer a compra, garantir o alimento para o mês seguinte.
Se no supermercado de luxo tudo é confortável, o ar condicionado esfria até os corações, corredores largos, os fregueses não se cumprimentam, mal se olham, escolhem o produto mais requintado. Poucos fazem a compra do mês, os carrinhos não são tão grandes. Às vezes, alguns consumidores deixam alguma doação de alimento na caixa de alguma entidade na saída do supermercado para a pobreza esfomeada.
Parodiando Raul Seixas, assim me sento no trono do status, com a boca escancarada de dentes, esperando a morte chegar, achando que estou contribuindo com minha parte
para nosso belo quadro social.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Um comentário:
O que não suporto nesses mercados populares em dias de compra do mês, ou não, é neguinho empurrando o carrinho e já bebendo cerveja antes de passar pelo caixa, criança tomando yogurte, apostando corrida com os carrinhos entre as pessoas, brincando de esconder nos corredores e quando não, a senhora ou o senhor, furtivamente, levando uma uva à boca; fico pensando, se cada freguês comer uma uva, imagina o prejuízo do dono do mercado.
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