AGENDA CULTURAL

27.3.18

O Alforje - literatura iraniana


Hélio Consolaro*

Embora não tenha preconceito com literatura mais popular, porque vivemos numa sociedade fragmentada em classes sociais e todas elas merecem ler, confesso que achei inicialmente o livro "O Alforje", de Bahiyyih Nakhjavani, 335 páginas, com cara de Paulo Coelho.

Assim, fui entrando no caderninho da TAG - Experiências Literárias que apresenta o livro, não deixa o leitor abandonado à sua própria sorte, explicando por que o autor  foi escolhido e o motivo de ser aquele livro.

O fato de ser o livro uma tradução especial para a TAG, pelo mercado editorial não se interessar por ele, deixa o leitor do clube mais orgulhoso, com um tratamento preferencial.
  
Bahiyyih Nakhjavani

A biografia da autora, ser ela uma iraniana exilada porque não se adapta ao regime político dos aitolás me fez ficar mais simpático ainda àquela bela encadernação. É bom afirmar que o Irã é o herdeiro da cultura persa.

Assim mergulhei na leitura, saía dela cansado de tanto andar no deserto. Parece que não, mas é importante para o leitor ler um livro de realidade totalmente diferente à sua. Assim conhece outros mundos, sem viajar.  

A construção da narrativa também me encantou, pois cada capítulo é um conto, que pode ser lido independente, mas que estão ligados entre si, como fez Graciliano Ramos em Vidas Secas, parecendo mais uma novela do que um romance. 

Mais inteligente ainda foi a autora fazer com que o jeito de contar, organizar os capítulos, revelasse a sua tese de que a verdade é relativa. CAPÍTULOS: O ladrão, A noiva, O líder, O cambista, A escrava, O peregrino, O sacerdote, O dervixe, O cadáver.

A entrevista do tradutor Rubens Figueiredo no caderninho, foi muito enriquecedora, quando ele diz que a preocupação deste tipo de profissional envolvido com a criação literária tem que ser mais com o português do que com o idioma original. Neste item é bom registrar que, apesar de Bahiyyih Nakhjavani viver em vários países, ser cidadã do mundo, sua pátria era a língua inglesa e nela escreve seus livros. 


Rubens Figueiredo
Na hora eu fiz uma relação com o sucesso dos livros de Paulo Coelho no exterior, porque dizem os maldosos que os tradutores consertam os livros ruins do escritor brasileiro. Na verdade, os tradutores trazem os livros importados para a cultura literária local. Fica aí a polêmica.

Em fevereiro, não resmunguei para ler o livro da TAG - Experiências literárias, mas preciso admitir que de vez em quando o conselho de curadores precisa me impor  alguma coisa mais espinhosa para que eu saia da minha zona de conforto. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

LEIA OUTROS ARTIGOS:

UMA VIAGEM AO ORIENTE
https://www.taglivros.com/blog/coluna-o-alforje-carol-bensimon

COMO FOI FEITO O LIVRO: CAPA E ILUSTRAÇÕES
https://www.taglivros.com/blog/projeto-grafico-o-alforje-tag

PALAVRAS DO TRADUTOR
https://www.taglivros.com/blog/entrevista-rubens-figueiredo-traducao-bahiyyih-nakhjavani-tag

OS PRAZERES  DO ORIENTALISMO
https://www.taglivros.com/blog/coluna-o-alforje-sergio-rodrigues

ENTREVISTA DE BAHIYYIH NAKHJAVANI
https://www.taglivros.com/blog/entrevista-bahiyyih-nakhjavani-escritora-iraniana-

Nenhum comentário: