Hélio Consolaro
“Eu ansiava por honestidade, mas encontrava desonestidade em
mim mesma”.
Neste imbróglio em que o Brasil vive, à procura de
desonestos, eu encontrei a frase da epígrafe perfeita lendo um livro da
literatura “beat”, “Só garotos”, de Patti Smith (1946).
A cultura “beat”, ou contracultura, tinha como intenção
lançar a dúvida sobre o sangue vermelho-branco-e-azul de todo americano. Manifestava
o inconformismo da juventude norte-americana. Patti Smith é a escritora, já
idosa, que foi receber o prêmio Nobel de Literatura em nome de Bob Dylan em
2017.
A frase de Patti Smith e a atitude do cristão que bate no
peito e diz que está salvo porque crê em Jesus Cristo e os outros estão todos
condenados são bem antagônicas.
A passagem bíblica de Maria Madalena em que vai ser
apedrejada e Jesus Cristo chega e a salva, dizendo que atirasse a primeira
pedra aquele que nunca havia errado condiz mais com a frase: “Eu ansiava por
honestidade, mas encontrava desonestidade em mim mesma”.
Os moralistas se acham puros, consertadores do mundo, tudo
está errado, precisam melhorar a situação. Na verdade, eles são pecadores
contumazes, acusam os outros para esconder os seus próprios erros.
Engraçado, toda vez que o país entra em crise, precisa de uma
reorganização, o motivo não é a injustiça, nem a distribuição de renda, mas a
corrupção. Assim foi com João Goulart, Collor, Lula, Dilma. Os moralistas não
querem resolver os problemas, mas encontrar culpados. A impunidade é uma
palavra mágica.
Outro dia, uma xícara caiu, pulou no ladrilho e trincou. Éramos
dois na área de serviço: eu e minha mãe. Com seus 92 anos, gritou:
- Quem derrubou a xícara? (Na verdade, era ela,
acidentalmente.)
Ela queria descobrir culpados. Eu redarguí:
- Mãe, acho melhor eu catar os restos mortais da xícara,
varrer o chão, não deixar nenhum caquinho para que nenhuma criança se machuque.
E continuei:
- Vamos resolver o problema? Achar o culpado não resolve
nada, apenas vamos nos acusar. Da próxima vez, procuremos não deixar a xícara
na beiradinha da mesa.
Deixar o complexo de culpa de lado. O bom pregador não permite
que a sua ovelha saia arrasada do templo, carregando a culpa das desgraças do
mundo por causa de sua homilia.
Erra, conserta, reflete sobre o erro; erra, conserta, reflete
sobre o erro. Assim caminha a humanidade. Aqui na Terra não existe desgraça
alguma, a não ser as criadas por nós, não há vale de lágrimas, até morrer é uma graça.
LEIA PRONUNCIAMENTO DE GILMAR MENDES PARECIDO COM ESTE ARTIGO.
LEIA PRONUNCIAMENTO DE GILMAR MENDES PARECIDO COM ESTE ARTIGO.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Araçatuba-SP
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