Mostra de fotos de artista e ativista suíça, Claudia Andujar, volta os olhos para etnia indígena
“Comecei a fotografar para conhecer o brasileiro. Eu não falava português. Então, eu perguntava se podia fotografar”. Foi com este espírito que a artista e ativista suíça Claudia Andujar aportou no Brasil, com 24 anos. Nascida na Suíça, em 1931, filha de judeu numa Europa nazista, passou a infância na Romênia, a juventude em Nova York e se encantou com o extremo norte da Amazônia. Essa babel cultural, acompanhou as viagens dos índios para caçar, se deslocar, embrenhada na Floresta, às margens do Rio Catrimani na década de 1970. “É a vida, o conceito, o mundo deles. A ligação entre a terra, o céu, a vida e morte. Eu aprendi muito sobre eles como seres humanos. Era isso o que me interessava”, afirma a fotógrafa.
Seu interesse pela vida dos Yanomami e seu convívio com os povos dessa etnia deu origem à exposiçãoSonhos Yanomami, composta por três séries fotográficas em que imprime suas interpretações imagéticas, o acesso a uma outra realidade, diversa e extraordinária, bem como a suas gentes, saberes e crenças, evidenciando pontos de contato e de estranhamento. A exposição será aberta nesta quinta, 23 de agosto, no Sesc Birigui, a partir das 19h, na Sala de Uso Múltiplo 3. A visitação é aberta ao público de terça a sexta, das 13h às 21h30 e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h. A mostra, que permanece no Sesc até o dia 16 de dezembro, permite o agendamento de grupos para visita mediada por educadores através do e-mail:agendamento@birigui.sescsp. org.br
A obra de Andujar sobre os Yanomami introduz questões da fotografia contemporânea da representação visual de símbolos e imagens dos povos indígena no Brasil. “As ações voltadas à diversidade cultural desenvolvidas pelo Sesc buscam a promoção de processos educativos orientados pela intenção de reconhecer o outro em sua singularidade e dignidade humanas. Diante de repetidos atos de barbárie e violência indiscriminada, torna-se fundamental reafirmar e difundir os valores da convivência e do respeito às diferenças e um dos caminhos para estimular reflexões e diálogos sobre esses e outros temas da sociedade passa pelo campo das artes”, afirma Bárbara Guirado, técnica de programação do Sesc Birigui.
Ao longo dos anos de 1970, Claudia Andujar desenvolve um trabalho que ganha amadurecimento técnico e discursivo a partir da convivência e do diálogo estabelecidos com os Yanomami. Em uma via de mão dupla, ambas as partes são favorecidas por uma relação de estreita cumplicidade. Do envolvimento respeitoso resulta o engajamento de Andujar em ações políticas para a preservação daquele povo. “Dediquei a vida a evitar o genocídio dos Yanomami. Acompanhei a morte dos meus ancestrais e tentei dar a vida para outros”, afirma ela em entrevistas. Ela, que não teve filhos considera os cerca de 20 mil Yanomami seus filhos. “Para mim era mais importante defendê-los do que ter um filho”.
As articulações estéticas e discursivas operadas pelo trabalho da artista envolvem a sobreposição de uma série de camadas cujo acesso não se dá de maneira imediata, mas pela via de um desvelamento paulatino e cauteloso. Observar suas fotografias é pensar sobre um posicionamento a favor da cultura indígena. Pelas massas violentas do preto e branco, o contraste brutal e estranho entre eles, quase desprovido de detalhes, Claudia Andujar apresenta na série O invisível e Reahu imagens circundadas por mistérios irreveláveis. A síntese das composições, os efeitos de luz, a falta de referências, os intensos contrastes entre claro e escuro fazem com que as imagens de Andujar deneguem o real à medida que seu interesse se volta para a busca por captar algo que, muitas vezes, não se deixa ver. Pelo modo como a artista trabalha a luz, sugere-se a busca por uma interioridade que estaria além da dimensão física dos objetos, pois ali tudo parece adquirir uma dimensão cósmica.
Esse aspecto cosmológico, tão marcante em seu trabalho, também permeia as fotografias coloridas presentes na série Sonhos Yanomami, em que a artista recria em laboratório uma bricolagem de imagens a favor de um universo onírico que, pela fotografia, é impulsionado pela vontade de alcançar algo que é, no entanto, da natureza do intangível. Esse aspecto torna-se central, uma vez que Claudia Andujar coloca-se diante dos rituais xamânicos dos Yanomami para, então, desenvolver imagens cuja aposta não está na ideia de religião como categoria da crença, mas como possibilidade de manter uma relação íntegra com a alteridade. As imagens antes estabelecem um contato com os retratados que é de outra ordem como se fosse permitido acessar uma natureza substancial ontológica essencial por meio da dramatização da luz.
Andujar teve um sonho. Um sonho Yanomami.
POVO YANOMAMI
Os Yanomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta tropical do Norte da Amazônia, cujo contato com a sociedade nacional é, na maior parte do seu território, relativamente recente. Constituem um conjunto cultural e linguístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos. Seu território cobre cerca de 192.000 km², situado em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela. A Terra Indígena Yanomami é reconhecida por sua alta relevância em termo de proteção da biodiversidade amazônica e foi homologada por um decreto presidencial em 25 de maio de 1992.
Serviço:
Exposição Sonhos Yanomami, de Claudia Andujar
De 23/08 a 16/12
Visitação: terças a sextas, das 13h às 21h30; Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h
No Sesc Birigui
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