Segundo o Ministério da Saúde, no ano passado, 312 cidades brasileiras tiveram uma cobertura vacinal contra o vírus da pólio abaixo de 50%, quando a Organização Mundial da Saúde preconiza uma taxa de imunização de 95% do público-alvo – no caso, todas as crianças com até cinco anos. Além disso, as médias gerais de vacinação em 2017 desceram ao patamar mais baixo dos últimos 16 anos. “A partir de 2015, vimos uma estabilidade e uma pequena redução. Mas em 2017 tivemos uma queda ainda mais forte”, declarou, para a Agência Saúde, Carla Domingues, coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, que avaliou a situação como gravíssima.
Fator Homogeneidade
José Fernando de Souza Verani, doutor em ciências na área de saúde pública e pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz, compartilha a preocupação: “Baixas coberturas não manterão a erradicação. Qualquer incidente pode reintroduzir o vírus”.
O pesquisador enfatiza, no entanto, que não bastam coberturas vacinais bastante altas nos municípios. “Hoje um fator se torna muito importante: a homogeneidade das vacinações”, diz. “Não podemos ter, em cada município, um bairro muito bem vacinado, mas outro, de periferia, com uma cobertura muito baixa. Precisamos ter em todo o país, em todo o continente, coberturas homogêneas”, acrescenta Verani.
Carta de Barry Rassin
O panorama inspirou uma carta do presidente do Rotary International, Barry Rassin, dirigida aos governadores distritais brasileiros em 6 de julho. “Nenhuma criança está segura até que o mundo inteiro tenha sido certificado como livre da poliomielite”, conclama. “Devemos continuar imunizando todas as crianças contra a poliomielite para protegê-las contra a ameaça de surtos e para garantir que não existam áreas com população vulnerável ao vírus da pólio. Infelizmente, tais áreas foram identificadas no Brasil”, ressalta.
A Campanha Nacional de Vacinação contra Pólio e Sarampo irá do dia 6 ao 31 de agosto. Para Marcelo Haick, coordenador regional da iniciativa End Polio Now no Brasil, este é o momento em que rotariano precisa sair do seu clube e se colocar presente na sociedade civil – “falar com autoridades, se preparar para dar entrevistas na mídia em geral, nos jornais de bairros, nas tevês comunitárias”, explica. “Os clubes têm que ter uma ação essencialmente prática e concentrar esforços no dia 18 de agosto, que é o Dia D. Queremos fazer uma grande mobilização rotária, cobrindo o Brasil com banners e balões”, declara.
De 1968, quando o registro da doença se tornou obrigatório, a 1989, ano do último caso surgido no país, 26.827 foram atingidas pela doença. Só depende de nós fazer com que a luta da pólio no Brasil continue a ser o que ela é: um capítulo da nossa história. Mas, para isso, precisamos continuar imunizando nossas crianças.
Artigo da revista Rotary Brasil - mês de agosto de 2018
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