AGENDA CULTURAL

10.11.18

Saber não ocupa espaço

Alberto Consolaro no programa do Jô Soares, agosto de 2013
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Eu tenho três irmãos, eu sou o primogênito, dentre os quatro homens gerados e criados pelo casal Luís e Augusta. Irmão mais velho, irmão mais novo, os dois do meio. Ainda são essas as designações usadas. Em tempos de filho único ou no máximo dois, elas são pouco usuais. 

Hoje escrevo algo de quem é "cidão" como eu, Alberto Consolaro, sempre está com o copo cheio, precisando extravasar. O "Dr. Consolaro", como é chamado por aí. Por aqui é o Beto.

Ele se esforça para ser um intelectual orgânico, ou melhor, um cientista orgânico. Essa nomenclatura foi criada pelo filósofo italiano Antônio Gramsci (1891-1937). É o pobre que estudou, ampliou seu vocabulário, sabe falar para uma plateia seleta, mas não se esquece de pôr o seu saber a serviço também da classe de origem.


Facsímile de página do Jornal da Cidade, Bauru-SP
Apesar de ter livros da área da odontologia publicados, aqueles grossos, que custam quase mil reais, Beto insiste em escrever para jornais; por exemplo, Jornal da Cidade, cidade de Bauru-SP, onde leciona na Odonto-USP. 

Já esteve até no programa do Jô Soares. Dá palestras por toda a América Latina. E agora está usando as redes sociais: o YoTube. Veja aí:



Às vezes, ele envereda pela filosofia, como no texto abaixo. Logo, logo Dr. Alberto estará no deserto do Saara à procura da pedra filosofal.



Chavões e brincadeiras à parte, caro leitor, o texto é recentíssimo. E vale a pena a sua leitura, como também ver os vídeos. Saber não ocupa espaço. 

Ciência no Dia a Dia nº 427
Alberto Consolaro

Qual é a sua pirâmide do "ser e saber"?

Aprendi a curtir os momentos, pois não faz sentido viver de lembranças! Apesar das nuvens escuras, extraio meu otimismo das viagens mentais, virtuais e presenciais e do contato constante com esta gente que trabalha no dia a dia, plantando sementinhas do bem para germinarem amanhã. Ao ver as tâmaras na gôndola de frutos exóticos nos mercados, pare um pouco e lembre-se: quem plantou aquelas frutinhas, morreu há muito tempo!
Os plantadores de tâmaras são questionados pois insistem nesta planta que oferece seus frutos apenas 90 anos depois. Os que não sabem viver o momento, insistem na conversa com os plantadores: vocês não irão colher as tâmaras que plantam, até lá vocês morrerão! E o plantador diz: ... é meu amigo, se os meus antepassados não plantassem tâmaras pensando que não iriam colhê-las, hoje eu não saborearia as tâmaras que sirvo à minha família e amigos! Ele quis dizer: não sejamos imediatistas e nem egoístas!
Toda vez que visito lugares e universidades e “escuto” o palpitar de corações e mentes que querem mudar e crescer, sinto um renascer, pois algum plantador de tâmaras passou por aqui e deixou uma sementinha! Sempre alguém me pergunta: - Como chegar ao sucesso, professor? Você parece tão feliz! Eu respondo: você conhece a pirâmide do “ser e saber”? Vou te contar!

PIRÂMIDE !
Nas quatro facetas da pirâmide do “ser e saber” você pode tatuar ou espelhar os seus
ídolos para lhe inspirar a viver! Eu sugiro os gênios da raça que interpretam a vida:
1º). Sartre: só existimos a partir do momento que temos consciência de quem somos e do que estamos fazendo aqui! Antes desta consciência plena, o ser humano se iguala a um vegetal ou animal que cumpre seu papel biológico no planeta.
2º). Sócrates: cada vez que aumento meu conhecimento, percebo que temos muito mais para saber! A interface com o desconhecido aumenta cada vez mais, quanto mais sabemos! O ignorante tende a imaginar quase sabe tudo, pois a sua face de contato com o que ele não sabe pode ser representado por uma esfera muito pequena em um contexto universal. A medida que nossa esfera aumenta pelo aumento do conhecimento, a interface com o que não sabemos aumenta muito. Quanto maior a nossa esfera, maior o contato com o que não sei! Sócrates disse: quanto mais sei, mais percebo o quanto nada sei! Quanto mais você sabe, mais humilde você fica!
3º). Piaget: só se aprende o que nos dá prazer e ou necessitamos para sobreviver! Se de início não mostrarmos isto em uma aula, venda de produto, na explicação de um processo ou ainda na explanação de um projeto pessoal, familiar ou político, qualquer coisa ficará desinteressante!
O ser humano precisa se motivar e Piaget, talvez o maior educador de todos os tempos, dissecou e foi no alvo quando explicitou de onde vem a motivação humana: do prazer e da necessidade. Em qualquer atividade e comunicação humana, lembre-se sempre do que disse Piaget: o sucesso é certeiro.


4º). Goethe: para este gênio alemão, só temos algo se de fato o compreendermos! Para Goethe, nunca se vai longe quando não se sabe onde estás! Para ele só chegaremos em algum lugar, se estabelecemos metas para alcançar!


META ?

Se perguntarmos para 500 pessoas, 499 terão dificuldades em responder o que estão fazendo aqui na Terra? Depois de muita discussão, as respostas serão:
1.   Vim aqui para aperfeiçoar o meu ser e voltar mais experiente e merecedor de um lugar mais interessante. Aqui é um estágio ou pós-graduação, eu acredito em reencarnação, um processo de evolução em etapas!
2.  Resolvi me submeter a um teste vivendo aqui! Se eu passar vou para o céu, mas se eu pecar muito, o que me resta é o inferno, sem segunda chance!
3.  Eu sou ateu e aqui cumpro o meu papel biológico como a vaca, café, árvore e outras coisas da natureza. Quando se morre, tudo se acaba!
4.  Eu sou cético e somos apenas massa de manobra de algum cientista celeste nos submetendo a algum experimento! A hora que ele achar melhor, vamos para o fim, ou o lixo!

REFLEXÃO FINAL
As reflexões podem mostrar o caminho de uma vida mais consciente e feliz! Olhe para as facetas de sua pirâmide e veja quem mora lá! Aliás, você é feliz? Qual é a sua meta final por aqui? Você reflete sobre isto?

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

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