*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Então, a chave. Existe palavra com tantos sentidos como a chave? Se você, caro leitor, for à procura de um dicionário de português, vai encontrar tal palavra com um verbete enorme, deixando qualquer estudioso de semântica entusiasmado.
O presidente da entidade assumiu o comando, nem tanto, porque não lhe deram a chave da sede. Não ter a chave de sua própria casa, por exemplo, é como ter um site e não saber a senha. Chave e senha são palavras sinônimas, relacionadas com controle e poder.
Antigamente, quando existia o Rei Momo, o prefeito entregava a chave da cidade ao monarca da folia no carnaval, mas isso acabou. Embora aquela chave não abrisse nada, uma alegoria, acabaram com ela, não era útil.
Atualmente, há o prolongamento das chaves, como travas eletrônicas, alarmes, cercas elétricas e portões eletrônicos. Há chaves de carro caríssimas. Cada um cercando o seu quadrado.
Esse negócio de chave é antigo. Travas e taramelas em portas e janelas, nem que fosse apenas para segurar animais. Como o homem (masculino) dormia com sua prole na caverna ao lado da entrada sem porta, tradicionalmente essa coisa de chave é assunto de macho em nossa civilização.
Com as propriedades com limites mais rígidos, a cerca substituiu o pastor de ovelhas. Há até rodízio de pastagens com cercas elétricas. Acabou esse negócio de o pastor sair de manhã com suas ovelhas ao pastoreio, isso se reduziu a uma figura bíblica.
Como fazemos tudo à nossa imagem e semelhança, botamos também chave na porta do céu, porque nas igrejas Deus tem dono, então o controle é feito conforme a doutrina.
Dizem os psicólogos que a educação autoritária põe a chave pelo lado dentro de cada um, trava o sujeito, tirando-lhe a espontaneidade, impondo a autocensura.
Há chave em tudo, mas o segredo de seu coração, o seu cofre sentimental, só você conhece, não é aberto por qualquer espertalhão. Não seja um banana. Tenha suas próprias chaves; senão, procure o chaveiro de seu bairro e comece tudo novamente.
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