AGENDA CULTURAL

13.7.19

Encontrão com a ex-namorada


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Ao adentrar a adolescência, o jovem cumprindo uma determinação biológica inicia uma corrida sexual. E quando isso não acontece, por diferenças de personalidade, temperamento etc, a cobrança dos adultos é desumana. Isso acontece até hoje. 

Com este cronista não foi diferente. Não tinha dinheiro para pagar um sorvete para a namorada, mas namorava. Afinal, o pai namorou, a mãe namorou, eu namorava também. Levava a vida como Deus manda.

Numa festa recente, topei com uma ex-namorada de meus tempos de rosto com espinhas. Ela com o seu primeiro marido, e eu com minha primeira mulher. Frente a frente, cara a cara. Todos se disfarçaram bem, ninguém se conheceu.

Pelo jeito, apenas eu e ela sabíamos do acontecido entre nós. Ninguém vai ficar contando para todos os namoricos da adolescência, os amassos de portão, as mãos bobas; ainda mais quando todos moram na mesma cidade. Apenas reparei nos seu 70 anos. Continua bonitona.

Não sei que rumo tomou sua vida, apenas sei que se casou com fulano. Nossos destinos se cruzaram lá atrás, eu, depois de certo tempo, descruzei tudo, porque namoro que ia dando muito certo, eu pulava fora.

Naquela época, década de 60, 70, aprendia-se a beijar e namorar com a prima mais velha. Como canta a banda Tribalistas: "Já sei namorar / Já sei beijar de língua / Agora só me resta sonhar". Havia passado pelo batismo. 

Trepar e namorar não se fazia com a mesma pessoa. Na zona do meretrício se aprendia as sem-vergonhices. Era o mundo do capeta. Para lá nos levavam os irmãos ou primos mais velhos. Até tios e pai mais ousado. Ou mesmo em turma de colegas. Namorar era para buscar a mulher que se levaria ao altar.   

O meu reencontro com a ex-namoradinha foi casual, apenas uma topada na multidão. Houve saudade, sim, mas apenas da juventude diante da realidade da velhice. Nenhuma paixão recolhida, frustração amorosa. Apenas uma constatação: sobrevivemos ao tempo e ainda temos um pedaço dele para viver. O amor, a paixão, o namoro foi bom enquanto durou.     

Chegou a hora de viver a envelhescência e fazer a travessia com ânimo. 

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