AGENDA CULTURAL

10.9.19

"As ilusões estão todas perdidas"


Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP

Os filmes campeões de bilheteria apelam para os sentimentos do espectador.  Assim é "Jardim Secreto" que tem a mesma estrutura narrativa de "Heidi". Uma personagem criança chega e modifica a filosofia do lugar. Sorte de seus autores, produtores, diretores, porque conseguem ganhar bem a vida explorando os nossos bons sentimentos.

Não li Heidi e só assisti ao filme agora. Como meus filhos têm nos seus nomes a letra H no início, se tivesse conhecido Heidi antes, com certeza ia ter a terceira filha para homenagear a obra.  

Como tomei conhecimento de Heidi apenas agora, a minha identificação se deu com os avós e a relação deles com seus netos, pois veem o humano com mais ternura. Se eu tivesse conhecido a história em minha meninice, certamente Heidi, Pedro e Carla seriam meus heróis. 

Reler obras na velhice e rever filmes marcantes em nossa infância é um exercício saboroso, às vezes, frustrante. Eu adorei o filme "Deu a louca no mundo", gargalhei de doer a barriga durante a exibição no Cine São Francisco. Revendo depois de adulto, não achei graça alguma. Não sei se melhorei ou piorei, ou é mesmo questão de fase da vida.   

Outro dia, num desabafo, disse a um amigo bem mais jovem, que eu havia lutado pela mudança política brasileira para que os valores universais fossem relevantes: democracia, direitos humanos, ética humanista, caridade, etc. E agora, na velhice, vejo tudo isso ameaçado.

Relembrando Heidi, pensei nos meus netos. Para eles, a messe é grande e estão tendo formação para isso. Nem tudo foi perdido.   

"As ilusões estão todas perdidas" - verso de Cazuza na música Ideologia

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