Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP
Peço licença ao caro leitor, pois minhas atuais crônicas estão envelhecendo junto comigo, ganham essa característica à medida que meus cabelos brancos avançam.
Apesar disso, acredito ainda que um velho tenha algo interessante para contar. Dizem que escrever é um ofício que melhorara na velhice, depois de tanto alinhavar palavras. Eu preciso de sua leitura.
Fui incumbido pela digníssima, como todos os velhos da cidade, de ir ao supermercado buscar algumas coisas para o almoço, uma alegria para qualquer aposentado. Não era data de pagamento de salários, mas assim mesmo o supermercado estava lotado.
Encontrei o acadêmico Antenor Rosalino com sua esposa, confrade de Academia Araçatubense de Letras. Perguntei-lhe se imortal também precisava fazer compras. E ele respondeu:
- E como!
Depois cumprimentei o irmão dele, Aurélio
Rosalino entre outras gôndolas. Pensei comigo: "família fazendo compras no mesmo dia"; mas fui mais longe, já que o pensamento voa: "supermercado é mesmo lugar de velhos se encontrarem".
De repente, um baixinho, meio gordinho, cabeça branca, me parou junto à banca de legumes. Conversa vai, conversa vem, dúvidas de português, como vai a cidade, algumas maledicências, e ele sem o seu carrinho de compras. Coisa mais esquisita é alguém no supermercado sem tal veículo.
- Cadê o seu carrinho?
Ele respondeu que não veio ao supermercado para fazer compras, mas para encontrar amigos e me achou. Não frequentava bar, então o lugar era um ponto de encontro ideal para ele e seus contemporâneos. Pá de cá, pá de lá, e as horas voavam.
E assim, meio desesperado, entrei no supermercado às 10h da manhã e saí às 12h com minhas compras. Imagine, caro leitor, como fui recebido em casa com tanto atraso. Só não me chamaram de santo. Se fosse mais novo, seria noite para ser dormida no sofá.
Um comentário:
Prezado Helio, com o característico humor o caro confrade se viu diante de circunstâncias que o fizeram atrasar a chegar em casa.
Como vê, imortal também está sujeito às vicissitudes e faz compras, até mesmo de algumas cervejinhas. O importante, porém, é que a procissão de nossas boas ideias sejam sempre acompanhadas pelo desfile de iguais belas ações.
Fraternal abraço e bom fim de semana.
Antenor
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