AGENDA CULTURAL

4.12.19

Natal dos pobres



Hélio Consolaro*



Não pretendo, caro leitor, estragar as suas festas neste fim de ano, dizendo que seu conforto seja injusto, mas não custa fazer uma reflexão sobre nosso comportamento. 

Dizem que os mais aquinhoados, classes C, B e talvez a A, amolecem os corações em cada Festa do Natal. Saem doando cestas e brinquedos. Comportam-se como vaquinhas de presépio.

Tudo isso ocorre, porque descobrimos que o Menino Jesus nasceu numa manjedoura ou cocho, onde os animais se alimentam. 


Trata-se de uma forma pedagógica de mostrar que Menino Jesus não é uma divindade poderosa, pois não nasceu em castelos luxuosas. Aí a nossa consciência dói e saímos compensando a injustiça com doações. 


O Filho de Deus nasceu pobre para nos mostrar que seus valores não são deste mundo; e seu berço não era de ouro, mas um lugar onde os animais se alimentam, como a nos mandar um recado franciscano a mais: os animais não são seres desprezíveis, pois compuseram o presépio. 

Quando dizemos atualmente "Natal dos Pobres", pobre inclui os desempregados e mendigos, mas há entre eles gente trabalhadora, que precisa ser ajudada porque são mal pagas por nós. 

Depois de todas essas lições, ainda há gente bem de vida, cabeça dura, que se propõe a evangelizar os pobres, como já tentamos e fracassamos quando tentamos evangelizar os índios. Se a gente for mesmo cristão, vamos descobrir que quem evangeliza é a pobreza, porque a riqueza é pagã.

Outro dia ouvi um ecólogo dizer que a alimentação do pobre, que não come de forma nababesca, com grandes desperdícios, é a mais correta. Para comprovar isso, basta ver o conteúdo das lixeiras da classe média nestes dias de festa.  


Enquanto oramos e afirmamos egoisticamente que somos imagem e semelhança de Deus, façamos a caridade periódica com doações de Natal em Natal. Nem Jesus Cristo conseguiu nos converter.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP e Itaperuna-RJ


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