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Ano-Novo é tempo de mudança, renovação. Um marco para
novas experiências. Esperança de ano bom, repleto de boas novas. Ao final dos
365 dias, vê-se que a lentilha, a semente da romã e o pulo das sete ondas não
tiveram o efeito desejado. Não faz mal, novos anos virão. Assim gira a roda da
vida.
A misteriosa roda da vida gira, às vezes,
aleatoriamente. Noutras, como o destino traçado sabe-se lá onde. Podemos ou não
influenciar no giro? Fazê-lo mais lento ou mais rápido? Para direita ou para a
esquerda? Pará-lo, descer para respirar, dar um tempo?
Indagações à parte, meu ano realmente é novo, cheio de
esperança. Veio com mudança, radical e literal. Abandonei o ninho onde vivi por
décadas, cercado de conhecidos, alguns parentes e, por isso, confortável. Raiz
difícil de arrancar. Porém, a vontade de arrancá-la foi forte e a necessidade,
imperiosa.
Depois de anos no mesmo bairro, na mesma casa, vi-me
impelido a mudar. E o fiz na calada do ano velho, às vésperas do ano novo.
Afinal, casa nova, com cheiro de tinta e encravada num morro da zona leste,
merece como marco uma data festiva, que prenuncie novos fluidos.
De repente, cinquentão, vi-me diante situações
inéditas. Fazer café em cafeteira elétrica, comprar cortinas e varões, receber
visitas interfonadas, pegar os jornais do dia com o porteiro sisudo e gastar
dinheiro, muito dinheiro, com coisas que jamais havia imaginado, como o famoso
tapete de fibra da casca de coco com a inscrição: “Bem-vindo a essa casa”.
Finda a trabalheira, conclui que mudar não é fácil.
Exige vontade e firmeza. Como num parto, a dor vem antes da alegria. É
necessário desfazer-se de apegos abstratos e materiais, como os bons momentos
que ficam para traz e o descarte de livros e revistas.
Mudança, seja lá qual for, é o desafio do novo. É
virar-se pelo avesso. É plantar bananeira sem tirar os pés do chão. Por isso, muitos
resistem e se contentam com o calor e conforto dos ninhos material e
sentimental. Como minhas penas extrapolaram o ninho, agarrei a roda da vida,
corrigi a rota e tornei-me inquilino da Caixa Econômica
*Antônio Soares dos Reis, jornalista de Araçatuba-SP
Um comentário:
Muito bom...
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