AGENDA CULTURAL

17.1.20

Inquilino da Caixa - Toninho Reis


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Ano-Novo é tempo de mudança, renovação. Um marco para novas experiências. Esperança de ano bom, repleto de boas novas. Ao final dos 365 dias, vê-se que a lentilha, a semente da romã e o pulo das sete ondas não tiveram o efeito desejado. Não faz mal, novos anos virão. Assim gira a roda da vida.

A misteriosa roda da vida gira, às vezes, aleatoriamente. Noutras, como o destino traçado sabe-se lá onde. Podemos ou não influenciar no giro? Fazê-lo mais lento ou mais rápido? Para direita ou para a esquerda? Pará-lo, descer para respirar, dar um tempo?
 
Indagações à parte, meu ano realmente é novo, cheio de esperança. Veio com mudança, radical e literal. Abandonei o ninho onde vivi por décadas, cercado de conhecidos, alguns parentes e, por isso, confortável. Raiz difícil de arrancar. Porém, a vontade de arrancá-la foi forte e a necessidade, imperiosa.

Depois de anos no mesmo bairro, na mesma casa, vi-me impelido a mudar. E o fiz na calada do ano velho, às vésperas do ano novo. Afinal, casa nova, com cheiro de tinta e encravada num morro da zona leste, merece como marco uma data festiva, que prenuncie novos fluidos.
De repente, cinquentão, vi-me diante situações inéditas. Fazer café em cafeteira elétrica, comprar cortinas e varões, receber visitas interfonadas, pegar os jornais do dia com o porteiro sisudo e gastar dinheiro, muito dinheiro, com coisas que jamais havia imaginado, como o famoso tapete de fibra da casca de coco com a inscrição: “Bem-vindo a essa casa”.
Finda a trabalheira, conclui que mudar não é fácil. Exige vontade e firmeza. Como num parto, a dor vem antes da alegria. É necessário desfazer-se de apegos abstratos e materiais, como os bons momentos que ficam para traz e o descarte de livros e revistas.

Mudança, seja lá qual for, é o desafio do novo. É virar-se pelo avesso. É plantar bananeira sem tirar os pés do chão. Por isso, muitos resistem e se contentam com o calor e conforto dos ninhos material e sentimental. Como minhas penas extrapolaram o ninho, agarrei a roda da vida, corrigi a rota e tornei-me inquilino da Caixa Econômica 

*Antônio Soares dos Reis, jornalista de Araçatuba-SP