AGENDA CULTURAL

1.3.20

Só vamos acreditar quando morrer um vizinho


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Eu estava no banho, quando levanto a cabeça e leio "corona"! Se eu fosse mais novo, teria dado um pulo, consegui apenas gritar: 

- Helena, o corona está no meu banheiro!

- Não, Helena, não é escorpião!

E mostrei pra ela, apontando para cima. Era verdade! Verdade era, mas bem diferente: ducha da marca Corona. 

A palavra coronária é da mesma origem, latina. Significa coroa. Como o vírus tem essa forma, foi batizado assim "coronavírus". É bom dizer que a palavra, em português, tem acento.

Como o brasileiro já sabe que a nossa mídia, a nossa imprensa sempre faz uma farra em cada tragédia, isso vem colaborando para que não haja tanto alarmismo e desespero em torno da doença. O brasileiro só vai acreditar na doença quando um vizinho morrer com a doença.

A divulgação em massa sobre o coronavírus também tem o seu lado positivo: elevar o conhecimento científico de nosso povo. Basta se vestir de branco para um microfone aparecer na sua frente, repórter querendo uma entrevista. 

A maior lição para os brasileiros com complexo de vira-lata, para eles aqui nada presta, foi descobrir nas enxurradas de reportagens que o nosso SUS é referência mundial. No meio de tantas gripes, o coronavírus é mais uma. 

Não sou maldoso, longe de mim desejar o mal para os outros, mas como o coronavírus tem preferência pela velharada (eu sou um deles), que ele escolhesse os idosos que se recusam a tomar vacina contra a gripe, dizendo fazer mal, que a vacina é um jeito do governo matar os velhos para não precisar pagar mais as aposentadorias deles. Essas patacoadas.

Assim, de tragédia em tragédia, às vezes biológicas, ecológicas e bélicas,  com a mídia fazendo o seu cacarejo, vamos vivendo cada dia, até morrer, que é o nosso objetivo de vida. Ou estou mentindo?

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