O grito - Edvard Munch (1893) |
Há coisas que devem ser ditas. Quase sempre. Não apenas pelo dever, ou pelo cinismo mais trabalhado. Devem ser ditas mesmo assim, pelos cotovelos , aos berros às vezes.
Temos um tempo de surdez vergonhoso!
Há bocas tão cansadas, após falta de tantos beijos, preferem beber saudades deles...E se calam!
Não interessa. Nada mais interessa nessas épocas incertas. Brincamos demais com as serpentes que eclodiram.
Hoje dão continência a uma estátua e marcham com ódio. Como carregar apenas alegrias no rosto? Que nada! Cobram-me sorrisos!!! Como se isso aliviasse a insanidade ao redor.
Acho muita graça nisso... Não disfarço meus ais. Cada traço em meu rosto me expõe: não compactuo com nazifascistas e seus áulicos preguiçosos, subalternos traidores.
Soltaram barcos de dores, sem rumos, levados por marés de mentiras que matam sabe-se lá para onde ou até quando irão navegar sem resistência real.
Controle nenhum sobre nada: o caos agora é permitido, ordem é destruir humanos.
Dizem alguns que a pandemia é uma curva, coisa passageira, da vida, passará... Meus soturnos botões, cínicos, discordam, é claro. Da morte só sabem os deuses e eles foram inventar outros universos.
Confirmo que pode ser. Todos devem se divertir. Até os deuses! Há dúvidas?
Sempre, nos relatórios finais. Viver é bem difícil , do primeiro segundo de respiração ao último. Vida minha que o diga!
E fazem quase sempre coisas muito iguais: crendo na impossibilidade de mudar, se juntam aos desumanos
a professora que casa com o professor, na falta de tempo para amar, a bela adormecida que deveria ter continuado dormindo...
Os imbecis que votaram pelo retrocesso...
a adolescente e outros que se vendem nos arredores aos poderosos de plantão...
As religiões que exaltam assassinatos, estupros e aos tresloucados que as seguem. E os que acham que crendo, serão!
E os que nesses tempos de pandemia, os imbecis, declarados ou não, seguem zumbis.
Penso bem o hoje, após os recado mandados pela realidade: serão muitos os embates! Até tem gente muito próxima que acha que deve extinguir os comunas!
Nada de romantizar as fábulas! Fábulas perdemos ao aprender a ver. Alguém falou isso!
Lembro jamais. Meus filhos ou filhas, os seus, herdarão qual mundo?
Há coisas que precisam ser ditas, digo. Com dureza, às vezes. Agora direi sempre.
Dizer as coisas só quando estão sozinhos, salas fechadas ou no teclado: a quem assusta?
Tempos difíceis exigem falas ao vento, nos gestos, nos andares e nas escolhas.
Não basta abrir trincheiras: tem-se que mantê-las! Exigem soluções complicadas mas paciência quando o empate não está à vista.
Ah! Essa pandemia que não acaba! Acumular forças. A questão é: estamos adiando esses momentos, desaprendendo os espaços.
E saudosos das imagens felizes de tempos pensados que insistem em desbotar.
Hoje não é esse tempo. Tempo de desatar nós e preparar os gritos para tomar as ruas (junho, 2020)
Marcos Francisco Alves é professor aposentado da rede de ensino estadual de São Paulo: 18 99744-0047.
Um comentário:
Obrigado Helio
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