AGENDA CULTURAL

26.7.20

Igualdade - Gervásio Antônio Consolaro



        Ainda seguindo os passos do professor Yuval Noah Harari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, trazemos aqui algumas preocupações de nossos tempos e do futuro, com relação a tão propalada igualdade entre as pessoas.

Com a globalização se previa, com a vinda de novas tecnologias chegar mais cedo neste ideal tão almejado. Embora a globalização e a internet representem pontes sobre as lacunas e que existem entre os países, elas ameaçam aumentar a brecha entre as classes, e, bem quando o gênero humano parece prestes a alcançar unificação global, a espécie em si mesma pode se dividir em diferentes castas biológicas.

     Com a vinda da globalização se esperava como resultado que pessoas do Brasil, da Índia e no Egito usufruiriam das mesmas oportunidades e privilégios de pessoas na Finlândia e no Canadá. Isto não ocorreu.

     Certamente a globalização beneficiou grandes segmentos da humanidade, mas há sinais de uma crescente desigualdade, entre e dentro das sociedades. Alguns grupos monopolizam cada vez mais os frutos da globalização, enquanto bilhões de pessoas são deixados para trás. Hoje, o 1% mais rico é do dono de metade da riqueza do mundo. Ainda mais alarmante, as cem pessoas mais ricas possuem juntas mais do que os 4 bilhões de pobres.

     Em 2100, os ricos poderiam realmente ser mais talentosos, mais criativos e mais inteligentes do que os moradores de favelas. Uma vez aberto o fosso entre habilidades de ricos e pobres, será quase impossível fechá-lo. Se os ricos utilizarem suas competências superiores para enriquecer ainda mais, e se dinheiro a mais pode comprar para eles corpos e cérebros incrementados, com o tempo a brecha vai só aumentar. Em 2100, o 1% mais rico poderia possuir não apenas a maior parte da riqueza do mundo mas também a maior parte da beleza, da criatividade e da saúde. A bioengenharia e a inteligência artificial, associados poderiam resultar na divisão da humanidade em um pequena classe de super-humanos e uma massiva subclasse de Homo sapiens inúteis.

    Quem é dono dos dados?

     Se quisermos evitar a concentração de toda a riqueza de todo o poder nas mãos de uma pequena elite, a chave é regulamentar a propriedade dos dados. No século 21, os dados vão suplantar tanto a terra quanto a maquinaria como o ativo mais importante, e a política será o esforço por controlar o fluxo de dados.

     A corrida para obter dados já começou, liderada por gigantes como Google, Facebook e Tencent. Até agora muitos deles parecem ter adotado o modelo de negócios dos “mercadores da atenção”. Eles capturam nossa atenção fornecendo-nos gratuitamente informação, serviços e entretenimento, e depois revendem nossa atenção aos anunciantes. Seu verdadeiro negócio não é vender anúncios. Enfim, ao captar nossa atenção, eles conseguem acumular imensa quantidade de dados sobre nós, o que vale mais do que qualquer receita de publicidade. Nós não somos clientes – somos seu produto.

      Por fim, como regular a propriedade de dados? Essa talvez seja a questão política mais importante de nossa era. Se não formos capazes de responder a essa pergunta logo, nosso sistema sociopolítico pode entrar em colapso.



Gervásio Antônio Consolaro, ex- delegado regional tributário do estado/SP, agente fiscal de rendas aposentado. Assessor executivo da Prefeitura de Araçatuba, administrador de empresas, contador, bacharel em Direito e pós-graduação em Direito Tributário. Curso de Gestão Pública Avançada pelo Amana Key e coach pela SBC.


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