AGENDA CULTURAL

26.7.20

Perereca, o delega do Santana - por Antônio Reis


Perereca - Luís Jordão

Na quarta-feira, 22 de julho, o Santana perdeu um grande personagem, motivo de tristeza não apenas para o bairro, mas para a cidade.  Não é todo dia que uma comunidade perde um “delega” xerife, que impõe respeito no grito e na troça. Morreu o comerciante Luís Jordão, anônimo pelo nome, conhecidíssimo como Perereca, o mais folclórico dono de bar que Araçatuba já conheceu.

Quando jovem, foi eletricista de autos e bateu bola no América. Decidiu ganhar a vida como profissional de boteco, atividade em que se notabilizou. Em outro ofício, seria apenas mais um. Como boutequeiro foi ímpar e testemunhas para comprovar isso não faltam. Para conquistar fregueses tinha sempre, sempre, cerveja no ponto (nem abaixo e nem acima da temperatura ideal), mas para conservá-los possuía uma senha infalível: brigava, xingava-os, mandava-os embora do bar. Assim foi no Brahmareca no mercadão municipal, na Rua Aviação com a Dr. Luís de Almeida e por último na Borba Gato.

Gozador nato, falastrão por natureza, teimoso feito uma mula. Rude nos gestos, demostrava carinho pelos amigos e fregueses submetendo-os a troças e cornetagens. Mesmo emburrado, conseguia ser divertido. Conhecia tudo, mais do que qualquer um, sobre futebol, política, religião, novela, mecânica, aviação e demais assuntos que viessem à tona. Dedicava bons minutos, a plenos pulmões, a uma contenda qualquer se encontrasse outro teimoso de igual estofo.

Contrariado, coçava a cabeça com grande irritação, alisava o vasto bigode como se quisesse arrancá-lo e com mão espalmada deitava porrada no mármore do balcão: “Oh, cacilda becker...”. De quarta-feira até este domingo em que seu Corinthians sofreu como sempre, já deve ter travado boas contendas com Nélson Reis Alves, Elmo do INPS, Nanu, Cu Seco, Daveia, Celso Lanches, Barraca, Picé, Ivo Teixeira, Paulinho Piloto, Bidu, Brandino Ferreira Gomes, Paulinho Aroca e Taozinho Rosalino a ponto de adverti-los em alto som: “Não confunda garrafão de aguarrás com batalhão do sargento Novaes, nem conhaque de alcatrão com catraca de canhão”.

O homem se foi, deixou uma Rosa e três brotos. Assim viveu Perereca, o “delega” do Santana.

(*) Antônio Reis, jornalista e ativista do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras.

Entrevistando o Perereca, Luís Jordão. Vídeo de autoria ignorada que percorre as redes sociais 

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