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Perereca - Luís Jordão |
Na quarta-feira,
22 de julho, o Santana perdeu um grande personagem, motivo de tristeza não
apenas para o bairro, mas para a cidade. Não é todo dia que uma comunidade perde um
“delega” xerife, que impõe respeito no grito e na troça. Morreu o comerciante
Luís Jordão, anônimo pelo nome, conhecidíssimo como Perereca, o mais folclórico
dono de bar que Araçatuba já conheceu.
Quando
jovem, foi eletricista de autos e bateu bola no América. Decidiu ganhar a vida
como profissional de boteco, atividade em que se notabilizou. Em outro ofício,
seria apenas mais um. Como boutequeiro foi ímpar e testemunhas para comprovar
isso não faltam. Para conquistar fregueses tinha sempre, sempre, cerveja no
ponto (nem abaixo e nem acima da temperatura ideal), mas para conservá-los possuía
uma senha infalível: brigava, xingava-os, mandava-os embora do bar. Assim foi
no Brahmareca no mercadão municipal, na Rua Aviação com a Dr. Luís de Almeida e
por último na Borba Gato.
Gozador
nato, falastrão por natureza, teimoso feito uma mula. Rude nos gestos,
demostrava carinho pelos amigos e fregueses submetendo-os a troças e
cornetagens. Mesmo emburrado, conseguia ser divertido. Conhecia tudo, mais do
que qualquer um, sobre futebol, política, religião, novela, mecânica, aviação e
demais assuntos que viessem à tona. Dedicava bons minutos, a plenos pulmões, a
uma contenda qualquer se encontrasse outro teimoso de igual estofo.
Contrariado,
coçava a cabeça com grande irritação, alisava o vasto bigode como se quisesse
arrancá-lo e com mão espalmada deitava porrada no mármore do balcão: “Oh,
cacilda becker...”. De quarta-feira até este domingo em que seu Corinthians
sofreu como sempre, já deve ter travado boas contendas com Nélson Reis Alves,
Elmo do INPS, Nanu, Cu Seco, Daveia, Celso Lanches, Barraca, Picé, Ivo
Teixeira, Paulinho Piloto, Bidu, Brandino Ferreira Gomes, Paulinho Aroca e
Taozinho Rosalino a ponto de adverti-los em alto som: “Não confunda garrafão de
aguarrás com batalhão do sargento Novaes, nem conhaque de alcatrão com catraca
de canhão”.
O
homem se foi, deixou uma Rosa e três brotos. Assim viveu Perereca, o “delega”
do Santana.
(*) Antônio Reis, jornalista e ativista do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras.
Entrevistando o Perereca, Luís Jordão. Vídeo de autoria ignorada que percorre as redes sociais
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