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Esta era a Enciclopédia Barsa, ainda comercializada entre nós! |
Entre as influências para sermos o que somos, o
cheiro foi uma delas! Nunca frequentei qualquer escola antes do primeiro ano
primário. Tinha seis anos. Era escola de uma sala só, extensão da escola lotada
do bairro. A sala ficava ao lado do pequeno aeroporto da cidade, em
continuidade ao hangar de pequenos aviões a ser concertados e pintados. Até
hoje quando sinto o cheiro de tinta fresca de funilaria, imediatamente me
remeto ao primeiro ano de escola. A professora era Cleuza Sanches, da qual
guardo um presente até hoje! Na porta da escola tinha um pé de mandacaru!
BIBLIOTECA
Menino levado, nos intervalos, sempre ia na
biblioteca. Se encantava com as enciclopédias Larousse, Mirador e Conhecer, mas
nada era igual à Enciclopédia Barsa. Ter a Barsa em casa era coisa de
milionário. Eram mais de 20 volumes e a cada ano a pessoa recebia o volume do
ano para atualizar. A Enciclopédia Barsa era como a Wikipédia hoje, tinha de
tudo que se consultava!
Na biblioteca do Instituto de Educação Estadual
tinha todas as obras de Júlio Verne com suas viagens e de Monteiro Lobato com
seus personagens maravilhosos. Lia e relia estas obras com olhos e cérebro
excitados de tanta aventura e informação. Eu viajava tal como se faz hoje os
meninos ao assistirem uma série, com olhos vidrados! Eu sentia o cheiro de
biblioteca e onde estavam os livros justapostos com aquele silêncio cortado
pelo barulho das páginas viradas e interrompido pela escandalosa sirene avisando
que a aula iria começar!
ATLAS
Eu ficava horas no atlas geográfico! A
professora Maria Luzia fazia gincanas e campeonatos dentro da sala para
localizarmos cidades, estados e países. Hoje tenho plena noção de localização,
fusos horários, geopolítica e a importância de saber que sou apenas um
habitante do planeta e que minha pátria é a terra e não o meu quintal. Depois
que apareceu o “gps”, percebi como isto foi importante!
Eu ficava imaginando cada cidade, estado e
país. Já pensou se eu pudesse ver cada cidade e hoje faço isto para me
divertir. Localizo as cidades no aplicativo de mapas e busco fotos e vídeos de
cada uma delas. Um desses aplicativos me permite dirigir em cada uma das
cidades. Mas eu ainda vou ver aplicativos me fazendo sentir o cheiro de cada
uma desses lugares saindo pela tela!
PEDAÇO
DE JORNAL
Às vezes, eu era escalado para comprar a alface
na quitanda, o pão ou arroz no mercadinho. Nesta época era comum e permitido
usar jornal para embrulhar quase tudo. Isto foi muito importante, pois ao
chegar em casa, a primeira coisa que fazia era desembrulhar e ir para a varanda
ler a folha de jornal, sem se importar qual era o assunto. Ler o jornal me fascinava
e nem sabia qual a razão disto, mas ficava excitado com as notícias.
As pessoas acumulavam os jornais para vender
por quilo ou doar para alguém fazer isto e ganhar alguns trocados, vendendo às
mercearias, quitandas, padarias e mercadinhos. Eu mesmo já fiz isso e ao pegar
aqueles montes de jornais o cheiro de tinta era inevitável. Aliás o mesmo
cheiro que sinto quando entro na redação do jornal!
CHEIRO
DE REVISTA
As revistas como
Cruzeiro, Manchete, Realidade, Fatos e Fotos e mesmo os primeiros anos da Veja,
eram impressas com tinta que trazia um cheiro típico que se espalhava pelo
ambiente onde ficavam.
O patrão de meus
pais trazia as revistas para a casa da fazenda onde morei no começo da
infância, tinha lá meus 5 anos, e até hoje quando sinto o cheiro desta tinta
que quase ninguém mais usa para imprimir, parece que me transporto para a
infância. Folhear aquelas revistas, mesmo com 5 anos, folha por folha era
encantador como as crianças que folheiam as páginas do ipad ou celular frente a
um aplicativo ou game novo: desliga-se tudo e concentra-se na novidade. Eu
fazia assim! Até hoje, cá entre nós, me pego, às escondidas, cheirando revistas à procura daquele cheiro cada vez mais raro! Que pena ...
REFLEXÃO
Hoje quando
dizem que a pessoa perdeu o olfato, se fosse eu, seria como deletar importantes
lembranças de minha infância: viva o cheiro!
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Alberto Consolaro – Professor
Titular da USP - FOB de Bauru-SP - consolaro@uol.com.br
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