AGENDA CULTURAL

28.10.20

É no cemitério que se conhece a vida

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Todos os cemitérios são meio parecidos, os antigos entre si, e os modernos entre si. isso é tão verdade, que outro dia ilustrei um texto sobre o Cemitério da Saudade, de Araçatuba, com uma fotografia de Sorocaba.

Na parte externa dos cemitérios, há o comércio permanente com produtos do ramo, a oferta de serviços, mas na época de Finados a coisa ferve. Algumas prefeituras sabem organizar isso, outras não. 

O caminhão de melancia tem presença cativa. E nas portas, não podem faltar o grito dos vicentinos:

- Adjutório para o Asilo São Vicente!   

Quem queima os corpos de seus parentes, a cremação, não precisam visitar os campos santos em Finados. Os espíritas não recomendam a cremação de cadáveres humanos. Há até quem diga que o espírito sofre se seu corpo for queimado.

Os cemitérios brasileiros seguem a tradição católica. A presença do cruzeiro é sinal material disso. Na verdade, os túmulos são uma memória dos antepassados. Muitos, de antigos, não guardam mais nem os restos mortais. São suportes de lápides, cada uma ostentando o nome do falecido para que ele não caia no esquecimento.

Fui limpar o túmulo de meu pai na antevéspera deste Dia de Finados, acompanhado da Helena. Percebi o local mais denso populacionalmente, pois morreu muita gente de coronavírus. 

Há uma primavera plantada no vaso grande que fica bem à frente ao túmulo de Luís Consolaro. Ela estava tão espalhada que resolvi podá-la. Ela deve ser parente do amor, porque ninguém mexe com tal flor que não saia arranhado. Olhei para a fotografia do velho e lhe perguntei:

- Está querendo dizer alguma coisa? Por que me arranhou? 

Ao lado do túmulo dele, há um quase mausoléu, uma capelinha de oração abandonada. Não sei se é verdade, mas me disseram que os descendentes se tornaram evangélicos, e eles não são adeptos em cuidar de túmulos. Largaram lá.


Aí me lembrei de uma frase de Jesus Cristo: "Cuidem dos vivos, porque dos mortos cuido eu!" Eles estão certos. Se você vir evangélico cuidando de túmulo em outubro, preparando-o para a visita de 2 de novembro, é fake news.

Cemitérios imitam as cidades, os pobres estão enterrados na periferia, parecendo canteiros preparados para a plantação de batatas. E uma plaquinha, com último número que um cidadão recebe. 

Não deixe de visitar o cemitério de sua cidade, caro leitor, nos dias de Finados, ainda mais se é poeta, cronista, artista de qualquer gênero, porque é lá que você conhece a vida.    

3 comentários:

Unknown disse...

Hélio eu gosto muito muito do que você escreve sempre gostei quando você falava dos políticos aí eu adorava que eles fez Eu ria muito e gosto também que você escreve o cotidiano uma maneira eu não sei explicar é gostoso de ler de refletir entende eu gostava quando Geraldo assinava o jornal melhor coisa que aí era lá de suas crônicas. Eu sempre falava para você que eu acho que era a 29ª leitora sua. Parabéns Hélio.

Hélio Consolaro disse...

LUÍS SACHI MANDOU O SEGUINTE COMENTÁRIO

O ESPIRITISMO NÃO É CONTRA A CREMAÇÃO DE CADAVERES E SIM QUE SE DEVE ESPERAR 72 HORAS APOS A MORTE PARA SE CREMAR A PESSOA NA SUA EXPOSIÇÃO DIAS ATRÁS VI ISSO . FIQUEI CHATEADO VI NA FOLHA DA REGIÃO

Hélio Consolaro disse...

Hélio Consolaro Consa
Luiz Sacchi Li sua indignação. Fiz uma pesquisa na internet antes de escrever e há várias posições dos espíritas diante da cremação, sendo a mais comum ser contra. Vou por a sua resposta embaixo da matéria apropriada.