AGENDA CULTURAL

28.5.21

Os dizeres e as cores de uma camiseta


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Passaram-me uma mensagem no zap:

- Deixei um presente em sua caixa postal. Já está paga.

Fiquei ansioso, pois estava viajando:

Aí seguiu uma recomendação:

- É para usar, hein!  

Depois de descarregar a carga do carro junto com a Helena, fui lá ver o tal presente deixado na caixa postal de minha casa. Era uma camiseta preta com a inscrição FORA BOLSONARO embalada num envelope saco.

Pensei lá com os meus botões: nunca pus o Bolsonaro pra dentro, FORA BOLSONARO é a palavra de ordem mais fácil do mundo.

Sempre tive preocupação com os dizeres expostos em minhas camisetas, mesmo em inglês, quero saber a tradução. De repente, é um palavrão numa língua estrangeira.  

Atualmente, comprei uma camiseta preta com um verso de Lenine da música Paciência: “A vida é tão rara”. Ninguém encrespou com os dizeres, pois por aqui não temos milicianos.

Antigamente, quem usava a palavra de ordem de fora fulano, fora sicrano, era a esquerda. Hoje, é lugar comum. Basta o político fazer algum desaforo que logo estão desejando a saída dele ou dela.

Durante a campanha eleitoral de 2018, um vizinho estacionava seus carros defronte à minha casa com o selo da campanha do Bolsonaro. Para mostrar para os transeuntes que minha opção não era aquela, fui buscar um faixa da campanha do Haddad para fixar na fachada de minha casa.

Os selos de campanha de Bolsonaro se desbotaram, sumiram, foram arrancados. De repente, apareceu uma moto na frente de minha casa com a seguinte inscrição: “Força, Bolsonaro!”. Pelo jeito, estava perdendo apoio.

Hoje, depois da pandemia, não se encontra mais quem defenda o imbecil com tanto ardor. Mas se precisar de uma forcinha para pôr aquele animal pra fora, posso usar a camiseta. Os bolsonaristas acabaram mesmo com o prestígio da camiseta da seleção brasileira. 



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