AGENDA CULTURAL

21.6.21

Boca: por que nega as máscaras!

A agência “Audaz” criou a campanha “Na vida e na propaganda, diga sempre a verdade” no contexto da crescente desconfiança à divulgação de informações sobre a Covid-19. 

 A boca centraliza os cinco sentidos. Até se vê ou imagina pela boca. Por ela se come, fala, geme, respira e ama. O planeta superpovoado usa muitas mãos para produzir, preparar transportar e servir os alimentos! É muita manipulação de animais e vegetais. É necessário ampliar a área agricultável e o movimento de cargas e pessoas aumenta a troca e trânsito de pessoas, aviões e navios. E que tudo seja rápido, mas nem tudo se fará “limpinho”: restaurantes, hotéis, ruas e teatros.

Abrem se as cavernas e floresta, derretem se as geleiras e liberam bactérias, vírus e fungos congelados a séculos e eras geológicas inteiras são escancaradas em nosso meio de vida antes tribal e agora global. Abre se a possibilidade de animais exóticos como morcegos e antas, carrapatos e mosquitos interagir-se com o mundo em que tudo ficava muito localizado, como o ebola.

IDADE MÉDIA

Na idade média nada podia se fazer e não existia ciência, tudo era religião! Tome culpa e punição, imperava a inquisição! Os corpos humanos não podiam ser examinados e nem abertos mesmo depois de mortos!

De 1500 para cá se fez a ciência com Galileu e Descartes para que a humanidade não se extinguisse. Até a religião aceitou a ciência cuja base é o argumento e o raciocínio em cima de observações irrefutáveis e checadas. Negar isto passou a ser chamado de negacionismo, pois rejeita a evidência de cálculos, conhecimentos lógicos a partir de discussões amplas e ao qual se chega ao consenso.

Enquanto não existia ciência, as pessoas precisavam de médicos que também significa aquele que cuida do outro. Naquela época, o que se fazia com as mãos era de menor valor. Nobres nada faziam com as mãos, apenas falavam, conversavam e tudo que precisavam fazer, pediam aos burgueses, criados, escravos e colonos.

Os médicos advinham das classes nobres, examinavam e receitavam, mas não atuavam no paciente. Se precisava amputar ou cortar, chamavam os cirurgiões formados entre os burgueses que existiam para servir aos senhores. Os cirurgiões não saiam das faculdades de medicina e sim do treinamento incansável de um iniciante ou aprendiz como discípulo de um mais experiente!

MÉDICOS

Com a revolução industrial a partir 1760, o que se fazia com as mãos passou a ser muito valorizado e os médicos atraíram e chamaram os cirurgiões para se formarem e atuarem nas escolas de medicina. Quando se descobriu que muitas doenças que dos pacientes operados, como nos partos, vinham das mãos sujas dos cirurgiões, isto foi uma revolução. Fazê-los lavar as mãos, usar luvas e usar roupas limpas para operar foi um trabalho muito difícil de conscientização para várias gerações.

Foi extremamente difícil convencer os cirurgiões a operar com máscaras idealizadas por Mickulicz em 1885. A resistência foi geral em atender e operar com máscaras, gorros, aventais pelo fato que eram pessoas vindas da burguesia e gostavam de fazer, e não muito da parte intelectual da medicina, como imaginar vírus e bactérias circulando no ambiente “aparentemente” limpo de um centro cirúrgico.

Para muitas pessoas o que não se vê, não se pega! Como deve ser difícil acreditar no microscópico a quem está acostumado a resolver as coisas operando com as mãos. Aliás, cirurgia significa fazer com as mãos.

REFLEXÃO FINAL

Como fechar a boca que falamos, comemos, amamos e respiramos! O primeiro instinto é negar. Para a pessoa vencer este instinto de negar a máscara, tem que ter conhecimento sobre o que existe no ar que respiramos. Estas mesmas pessoas também negam a proteção ao meio ambiente, pois acham que o invisível é inesgotável e limpo, já que não é palpável com as mãos. 

O antídoto para esta negação é só um: o conhecimento! 

consolaro@uol.com.br
Alberto Consolaro – professor titular da USP na FOB de Bauru-SP 
 

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