Se explicar de forma simples, todos entenderão, inclusive a Decoronação!
O paciente é um médico e o dentista, um destacado especialista. Ele explicava a necessidade de tirar o dente do siso ou terceiro molar inferior. Justificou que deveria extrair pois estava quase em contato com o dente vizinho com risco de reabsorvê-lo. Ao mesmo tempo, aquele dente apesar de ser do siso estava sem juízo ao abraçar o nervo da mandíbula daquele jeito.
E continuou:
- Na extração pode lesar o nervo e induzir uma alteração da sensibilidade ou até a perda completa dela, duas situações conhecidas por parestesia e anestesia!
O paciente médico, sem nenhuma formação odontológica, interrompe elegantemente o dentista e diz:
- Ora doutor, então vamos decoronar este dente!!!
O dentista quase caiu das pernas ao ouvir tal sugestão e perguntou:
- Como assim? Você sabe desta técnica de tirar apenas a coroa do dente com o esmalte e deixar a raiz feliz abraçada ao nervo dentro do osso?
O paciente respondeu:
- Claro que sei doutor, eu sigo o senhor no
Instagram! E sorriu marotamente.
MÍDIA E CONHECIMENTO
As revistas, jornais, televisão, internet,
Instagram, Facebook, Twitter e Tik Tok diminuem cada vez mais a distância
entre leigos, profissionais e cientistas. Já não pega bem, os profissionais que
gostam de usar palavras difíceis e rebuscadas incomuns entre os próprios pares
e, muito mais ainda, na comunicação com a população leiga. Essas palavras
difíceis apenas especialistas usavam e eram chamadas de jargão científico,
médico, odontológico ou jurídico. Palavras e frases devem suavemente facilitar
a compreensão da ideia por qualquer cérebro humano, de paciente a profissional.
No livro “O ‘Ser’ professor: a arte de
ensinar e aprender” e nas minhas exposições, eu insisto dizer a meus caros
colegas que o professor deve ter a humildade de aceitar que se os alunos não
entenderam a minha ideia, o problema não são os alunos e sim a minha forma de
explicar e, neste caso, repito quantas vezes for necessário! Sempre fiz isto e
se precisar requisito o testemunho de meus queridos alunos.
O mesmo se aplica ao explicar resultados de exames, planejamento terapêutico e técnicas a ser utilizadas pelos profissionais. Se o paciente e acompanhantes não entenderem, a culpa é do profissional que não está explicando de forma eficiente, deve se atualizar na arte de se comunicar!
É difícil aceitar, mas os cérebros dos humanos são
iguais, temos a mesma capacidade de compreensão, o problema é que não temos a
mesma capacidade de comunicação, infelizmente.
REFLEXÃO FINAL
Falar para que todos entendam não é reduzir
a profundidade do conhecimento, é apenas distribuir e fazer o conhecimento ser
compreendido por todos já que fazemos parte do mesmo conjunto chamado
sociedade. Manoel Bandeira disse: “O difícil é ser simples”. Clarice Lispector
acrescentou: “... não se enganem, por trás da simplicidade, se tem muito
trabalho”. Já o escultor Constantin Brancusi arrematou: “A simplicidade é a
complexidade resolvida”.
O dente veio do osso na evolução das
espécies. Quando traumatizados, os dentes podem se unir ao osso, o que se chama
anquilose, e são substituídos lentamente por osso. Se a coroa dentária for
eliminada e as raízes ficarem submersas, depois de alguns anos serão
substituídas, sem deixar sinais. Nestas áreas, se manterá o volume e a mucosa
normal, permitindo até que se coloque implantes dentários, mesmo logo depois da
decoronação! Até pouco tempo atrás, a “Decoronação seguida de Implantes
Dentários” era impensável, mas a ciência nos faz evoluir! Elis Regina e
Belchior cantavam aos quatro ventos: -
“... e o novo sempre vem”!
Alberto Consolaro – professor titular da USP na FOB de Bauru
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