Cidadezinha qualquer

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Se você, caro leitor, mora numa cidade agitada, que todo dia se assassina uma pessoa e deixa uma outra amarrada para ser matada amanhã, não tolera tanta violência, então mude-se para uma cidadezinha qualquer, aquela cantada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, publicada em 1930. Quer o endereço?

Naquela época em que o poeta fez o poema, havia muito mais cidadezinhas pelo Brasil. Hoje, há algumas, dentre elas Nova Aurora-GO. Já passei por ela, ensino o caminho, ou leia a reportagem, clicando aqui. Mas não precisa ir tão longe, na região de Araçatuba encontrará cidade assim.  

Nova Aurora, de tão pequena, 2.300 habitantes, quando alguém espirra, a cidade inteira grita "Saúde" porque o atchim foi ouvido pelos quatro cantos da cidade. 

Em Nova Aurora, todos se preocupam com a vida dos outros, por isso as fofocas são mais intensas, mas ninguém cai na rua com a indiferença de todos, deixando aquele corpo estendido na rua. Alguém vai socorrer o moribundo.  

Qual o melhor lugar para se morar? Cidade grande ou cidadezinha? Segundo Roberto Shinyashiki, não há lugar bom para se morar. Quem faz da cidade um bom lugar é você mesmo, caro leitor. 

Cidadezinha Qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

(Carlos Drummond de Andrade)