AGENDA CULTURAL

20.12.21

Chupando fruta no pé - Antônio Reis

Domingo inspirador, sem nuvem no azul infinito do céu; ventos suaves e temperatura dig

nos da primavera que chega ao fim. Merecedor de uma boa caminhada ou pedalada sem rumo, sem prumo e sem pressa.

Logo nas primeiras pedaladas, decidi que domingo tão agradável merecia ser brindado com algo diferente, um reverso do dia a dia dos inúmeros domingos anteriores e dos posteriores. E o que pode ser diferente para um dia tão diferente? Quem sabe algumas pedaladas a mais dariam a resposta. E deram.

Próximo a uma revistaria decidi que o domingo seria brindado com a leitura de jornal em papel. Nada de leitura na tela do computador ou do celular. No final do passeio, já em casa, senti que ler jornal no papel era pouco para o domingo. Depois de algumas pedaladas mentais, decidi desencaixotar os CDs para ouvi-los no empoeirado aparelho de som, mas que ainda funciona perfeitamente.

Que mais? Liguei a televisão tradicional e assisti trecho de uma partida de futebol feminino. No mesmo aparelho toca-CD sintonizei uma emissora de rádio local e ouvi um pouco da programação dominical. Ainda voltei à televisão depois do almoço e antes da sesta, mas o dia foi mesmo marcado pela leitura do jornal, da música pelo compact disk e muita reflexão em torno do retrô e do vintage.

Foi um domingo sem computador, celular e todas as tecnologias digitais. Não sei se por coincidência ou intervenção divina, ninguém ligou. Mensagens chegaram, mas só respondi na segunda-feira. Foi diferente e muito bom. Fica a sugestão a não sei quem, ou a quem de direito, a consagração do 19 de dezembro como o Dia Mundial sem Parafernália Digital, assim como o Dia Mundial sem Carro ou sem Tabaco.

A abstinência dos equipamentos digitais proporciona atividades agradáveis esquecidas no tempo, como sujar as mãos com tinta do papel jornal, folhear um livro observando antigas anotações ou o amarelado das páginas, sintonizar uma emissora de rádio em aparelho convencional; empilhar Chicos, Caetanos, Miltons, Elis, Bethânias, Jobins e escolher a sequência em que serão ouvidos. Ignorar estes prazeres, é como desconhecer a delícia de chupar fruta no pé.

*Antônio Reis é jornalista e escritor, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras.

2 comentários:

Emilia Goulart disse...

Parabéns para Antônio Reis belo texto

Unknown disse...

Bela cronica, escrita com aroma e com sabor de vida analogica. Escrever e revelar o que mora dentro da gente.