AGENDA CULTURAL

18.12.21

É Natal, doar é necessário

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

Em tempos passados, nessa época do ano, as rádios só tocavam músicas natalinas. Havia as nacionais, mais pastoris, e as urbanas, já falando de Papai Noel. Algumas versões também. 

As comemorações do nascimento do Menino Jesus se estendiam até o Dia de Reis com o desmonte do presépio, seguindo a tradição portuguesa. Até nos norte-americanizarmos com a figura do Papai Noel. 

Assim também no carnaval. Na sexta-feira da paixão de Cristo, só músicas instrumentais, bem fúnebres. O rádio comandava a comunicação. 

A primeira música de Natal gravada por músico, sem ser folclórica, foi a marcha "Boas festas", de Assis Valente, em que aparece a figura de Papai Noel. 

A música traz denúncia de que Papai Noel era uma artificialidade: "Eu pensei que fosse uma brincadeira de papel". Mostrava que crianças pobres não recebiam presentes: "Eu pensei que todo mundo / fosse filho de Papai Noel". 

A primeira gravação da música "Boas festas", 1933, comandada por um norte-americano, não queria aceitá-la, alegava que era muito triste, pois estava acostumado com a festa natalina de arromba, nos moldes de sua pátria. 

O Natal é mesmo uma festa triste entre nós. Bem familiar. Nestes tempos de pandemia, na ceia, lembraremos mais da música "Naquela mesa está faltando ele" ou ela, ou vários, que foram vítimas do coronavírus.

Em 1995, Simone lançou o disco "Então é Natal", sendo que a música principal do disco é versão de  “Happy Xmas (War is Over)” (1971), autoria de John Lenon. Roupa Nova, em 2007, lançou CD "Natal todo dia" com muitas versões e músicas cantadas em inglês.   

Natal era presépio. No presépio vivo, na capela do Asilo São Vicente, em Araçatuba, fiz o papel de pastor. Não precisa ficar rindo no canto da boca, caro leitor, dizendo que eu era o burro da encenação.

Sei também que este texto está eivado de saudosismo, mas, com minha idade, não dá para ficar totalmente isento. Aliás, estou escrevendo e ouvindo músicas natalinas pela harpa de Luís Bordon, paraguaio, com meu notebook ligado no Spotify. Sou velho, mas atualizado.

Então, caro leitor, participe das confraternizações dos grupos a que pertence, pois isso é o que mais vale. Amigo secreto em época de crise é a saída para não se gastar muito com presentes.

A festa de Natal em si já é uma denúncia da pobreza que existe entre nós, pois nesta época os corações amolecem e muita gente vai fazer o papel de Papai Noel dos pobres, distribuindo brinquedos e cestas básicas.

Eu doou coisas para grupos que prestam tais serviços, pois não quero entregar nada pessoalmente, não desejo que ninguém me jogue na cara agradecimentos, verdadeiras subserviências. A consciência dói.

De um jeito ou de outro, faça alguma coisa por alguém que não esteja bem na vida. Os cartões de Natal viraram mensagens digitais, sempre há alguém que não precisa de bens materiais, mas de acolhida, aconchego. O fato do amigo internauta se lembrar da gente já é um conforto, mesmo que seja spam.  

É Natal, doar é necessário para que nos sintamos solidários, parte da humanidade.   


Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns Professor Hélio pelo belo artigo. O espírito natalino ele é completo quando é compartilhado com alguém. Como Deus se doou para nos na forma de um menino, nós também devemos repartir nossos bens, nosso tempo, nossa solidariedade com os menos favorecidos. Assim será festa completa para todos.