AGENDA CULTURAL

27.12.21

Música caipira ou sertaneja?

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Deu-me vontade de fazer uma resenha pasteurizada, politicamente correta sobre o livro de Gustavo Alonso, mas mudei de ideia. O autor, professor da Universidade Federal de Pernambuco, escreveu o livro "Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira" com 599 páginas, classificado como polêmico. Por que fazer um texto água morna?  

Está certo de que longe está o velho cronista com suas polêmicas nos seus textos diários quando cutucava a cidade por inteiro em jornal de papel. Nesta fase da vida, com as redes sociais, fiquei mais zen. Escrevo e aceito o sujeito escrever a sua resposta, sem replicar.

Durante a pandemia, o atual presidente da Academia Araçatubense de Letras, Arnon Gomes, convidou o professor e escritor Romildo Sant'anna para apresentar on-line aos acadêmicos a última versão de seu livro "A moda é viola - ensaio do cantar caipira" (segunda edição ampliada, 2020, 623 páginas). 

Sem ler nada e nem ouvir falar de Gustavo Alonso, fiz uma intervenção na hora dos debates com o professor Romildo, dizendo que eu considerava a música sertaneja uma evolução da moda caipira, pois esta tem o seu valor como memória, precisa ser conservada, mas a realidade brasileira mudou e o homem do campo veio para a cidade com o êxodo rural, não dá mais para o caipirismo continuar. Até citei um princípio que corre o folclore ou a arte popular de que se a tradição quiser continuar, precisa se renovar, se atualizar. Senti que o professor Romildo não gostou de minha intervenção, mas não quis polemizar. 

Se continuar nesse ritmo, a segunda edição do livro do Gustavo Alonso deverá ter umas 800 páginas. Caipira escreve pouco, mas os estudiosos sobre o assunto gostam de impressionar,  escrevendo livros volumosos.  

Na polêmica fala de Sérgio Reis, que ia quebrar e arrebentar quem fosse contra o Bolsonaro, o podcast "Café da Manhã" da Folha de São Paulo entrevistou Gustavo Alonso. Gostei das posições dele, resolvi comprar o seu livro: "Cowboys do asfalto", que li por inteiro, onde o autor dá alguns beliscões no Romildo Sant'anna - rusgas acadêmicas. 

Já escrevi sobre o livro do professor da Unesp-Rio Preto, agora focalizo o outro doutor em música caipira, cuja tese foi defendida em 2011 na UFF, que foi transformada em livro em 2015.

Gustavo contou em depoimentos à imprensa que o interesse em pesquisar este tema surgiu da curiosidade em entender o fenômeno da música sertaneja no Brasil. Além das pesquisas em reportagens, arquivos da censura, discos e sebos, Gustavo também entrevistou cantores, produtores e empresários do gênero.

 

Outro aspecto importante é que o professor ainda buscou fazer uma compreensão da música brasileira além dos gêneros que são sempre contemplados com estudos, como a MPB, tropicália e samba “Diferente de vários outros livros sobre música brasileira, onde só se fala sobre um ritmo, falo sobre música sertaneja em diálogo com outros gêneros”, finalizou.

   

Gustavo Alves Alonso Ferreira possui outros livros sobre a música brasileira, como está sempre presente na imprensa brasileira. O livro pode ser encontrado na Amazon (edição digital), livrarias e em sebos. A capa do livro tem um jeito bem brega. Gostei de queimar minhas vistas nele. Valeu a pena. 


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