AGENDA CULTURAL

25.2.22

Um político que persistia em ser um homem público

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Surpreso, recebi a notícia da morte do médico Synésio de Oliveira Borges, que há algum tempo teve consultório na rua Tiradentes, esquina com a rua São Paulo, onde hoje está a Tomoson. Dos 19 vereadores que compunham a 9a. legislatura da Câmara Municipal de Araçatuba (1983-1988), eu e ele compúnhamos a horda de homens públicos. 

Escrevi "horda", porque naquela época também éramos xingados, a diferença é que não havia redes sociais.  Também setores da população elogiavam os vereadores de antigamente, nós éramos porcarias. Assim como hoje, quando encontro algum velhote como eu que diz: "no seu tempo (quando eu era vereador) é que os vereadores eram bons, agora (os atuais) não valem nada". Há gente que tem como método de vida só elogiar o antigamente. Por isso eu digo, não confiem muito nas memórias dos velhos, falham muito, e alguns até mentem..

Daquela legislatura, poucos estão vivos: José Américo do Nascimento, Hélio Pereira de Souza, Hélio Correia, Hélio Consolaro (nunca vi tantos Hélios por metro quadrado, e todos estão vivos), Netão, Rubens Moreira Arcieri, Írio Lanza, Miguel Isique. Os mortos: Eduardo Pinheiro Lois, Valtenir Pereira Dias (Tuta), Valdir Nascimbene, Nilo Ikeda, Masaharu Ameko, Pedro Martinez de Souza (o Pereira), Synésio de Oliveira Borges, Nélson Reis Alves, Valério Cambuy, Antônio Moretti (Aracanguá). Sobrevivi para escrever sobre eles, fazer elegias.

Eu era um professor, muito bem votado na periferia e nas igrejas católicas. Quem é o Hélio Consolaro, perguntavam os habitantes da zona nobre. Eu apenas escrevia alguns artigos no jornal A Comarca. Tive que aprender muito entre os meus pares, principalmente conviver com os contrários, os diferentes, fazer articulações. Foi um curso de pós-graduação. 

E o Dr. Synézio, assim o chamávamos. Era o vereador representante da elite, com ele conheci um médico de perto, convivi com o outro lado. Ele gostava muito de estudar os projetos, mas não jogava para a galera. Debruçava sobre as leis. 

Eu também era assim, mas não abandonava as bandeiras populares. Eu não me reelegi porque fui ser candidato a prefeito, uma aventura; Synézio não se reelegeu vereador, apesar de se dedicar ao mandato. Apesar de ideologicamente diferentes, senti muito, achei uma injustiça a sua derrota. Depois dessa, ele foi morar em Campo Grande-MS, perdemos o contato.

Ao saber recentemente que havia morrido em Santos aos 90 anos, fiquei estarrecido. Toda essa idade! É que eu havia me elegido com 34 anos, e me esqueci de que o tempo passa para todos.    

Escrevi mais de mim do que dele, mas realmente queria mesmo é homenageá-lo, pois tivemos seis anos de convivência de vida legislativa, porém todo croniqueiro é um narcisista: o mundo começa e termina no seu umbigo.

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2 comentários:

Ventura Picasso disse...

Reminiciencias, lembranças, saudades do projeto que sonhou honestamente.

Maria Zei Biagioni disse...

Fico triste quando sei da morte de pessoas da minha geração.É sinal que meu tempo está chegando.