AGENDA CULTURAL

6.5.22

A boca nas terapias dos cânceres: fundamental!

 

Para todos os cânceres, uma atenção especial deve ser dada às condições bucais do paciente antes de se iniciar a terapia

No esfregar dos olhos, pentear, fazer unhas, mastigar, escovar dentes e até beijar, inserimos bactérias no sangue, o que se chama bacteremia transitória. Em segundos são eliminadas pelas células e anticorpos. Têm que ser rápido, pois em minutos podem escapar do sangue para outros locais do corpo e lá se alojarem, criando focos infecciosos. Em média, a bactéria se duplica após 20 minutos de forma progressiva, não dá para vacilar.

Células do sangue e anticorpos com outros agentes de defesa devem ser fabricados e repostos aceleradamente pela medula óssea, fígado e outros órgãos. As fábricas onde acontecem devem receber muitos aminoácidos, proteínas, carboidratos, vitaminas e outras peças. Quando este processo fica lento temos doenças sistêmicas debilitantes como anemias, diabetes, imunodepressão, doenças autoimunes e outras. Os cânceres são clones de células rebeldes independentes que sugam a energia do corpo e o debilita muito.

Nas situações debilitantes, as bactérias podem demorar mais tempo vivas e circulando no sangue nas bacteremias transitórias, passando de segundos para minutos. Tempo suficiente para alcançar órgãos e tecidos nobres onde proliferam à vontade, podendo ser no rim, coração, pulmão e nos ossos, onde são atacadas pela inflamação. Nos ossos podem dar origem as osteomielites, que são destrutivas e sequelantes.

Cuidar da higiene corporal é fundamental e da boca, muito mais, pois é o local mais contaminado do corpo e na mastigação, se faz muitas bacteremias transitórias. Se na saúde as bacteremias transitórias são importantes, imaginem em pessoas com doenças debilitantes, nas quais se deve reforçar mais ainda a higiene e saúde bucal. Por exemplo, as osteomielites só ocorrem em pacientes debilitados!

NOS ONCOLÓGICOS

Os pacientes oncológicos são debilitados pela doença, mas muito mais ainda quando iniciam as terapias para combater as células cancerosas que proliferam alucinadamente. Os quimioterápicos combatem a proliferação das células malignas, mas acabam atrapalhando também a proliferação e manutenção das células normais, o que debilita mais ainda o paciente. Estes pacientes ficam propensos às doenças que podem ser iniciadas por uma bacteremia transitória qualquer por ter uma boca sem higiene e com dentes, língua e próteses recobertas por placas e cálculos. A osteomielite pode se instalar na mandíbula e maxila quando estas bactérias chegam na intimidade dos ossos desses pacientes.

Quando se faz radioterapia, as células cancerosas morrem ou deixam de proliferar e ainda perdem irrigação sanguínea. Se essa irradiação passar por um osso, ele tende a perder a maioria de suas células e seus vasos serão afetados e passará pouco sangue por eles. Esta situação dura 5 anos e se chama osteoradionecrose não tendo nenhuma bactéria envolvida, nem pus e fístulas.

O osso irradiado com osteoradionecrose, fica com dificuldade de se defender frente a qualquer bactéria que chegue até ele. Quando chegam bactérias nos ossos irradiados com osteoradionecrose, pode-se ter uma osteomielite superposta e que vai se chamar osteoradiomielite. Este quadro é muito sério e mutilante, tem bactérias e pus abundantes, além de fragmentos de osso e dentes sendo expelidos por ulcerações bucais e cutâneas!

REFLEXÃO FINAL

A prevenção da osteomielite e da osteoradiomielite (a partir da osteoradionecrose) e outras complicações da quimioterapia e da radioterapia é:

1) Paciente ter uma higiene bucal controlada e dentes saudáveis antes de começar qualquer tratamento oncológico.

2) Fazer análise bucal profissional rigorosa antes, ressalta-se antes, de começar a radioterapia e ou a quimioterapia e durante sua manutenção, para controlar possíveis cáries de radiação.

3) Não fazer qualquer procedimento cirúrgico bucal sem extrema necessidade, e quando fizer, apenas com profissional treinado e em um ambiente hospitalar.

Isto deve ser protocolo para qualquer oncoterapia!    

Alberto Consolaro - professor titular pela USP  

consolaro@uol.com.br

  

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