Para todos os cânceres, uma atenção especial deve ser dada às condições bucais do paciente antes de se iniciar a terapia |
No esfregar dos olhos, pentear, fazer unhas, mastigar, escovar dentes e até beijar, inserimos bactérias no sangue, o que se chama bacteremia transitória. Em segundos são eliminadas pelas células e anticorpos. Têm que ser rápido, pois em minutos podem escapar do sangue para outros locais do corpo e lá se alojarem, criando focos infecciosos. Em média, a bactéria se duplica após 20 minutos de forma progressiva, não dá para vacilar.
Células do sangue e anticorpos com outros
agentes de defesa devem ser fabricados e repostos aceleradamente pela medula
óssea, fígado e outros órgãos. As fábricas onde acontecem devem receber muitos
aminoácidos, proteínas, carboidratos, vitaminas e outras peças. Quando este
processo fica lento temos doenças sistêmicas debilitantes como anemias,
diabetes, imunodepressão, doenças autoimunes e outras. Os cânceres são clones
de células rebeldes independentes que sugam a energia do corpo e o debilita
muito.
Nas situações debilitantes, as bactérias
podem demorar mais tempo vivas e circulando no sangue nas bacteremias
transitórias, passando de segundos para minutos. Tempo suficiente para alcançar
órgãos e tecidos nobres onde proliferam à vontade, podendo ser no rim, coração,
pulmão e nos ossos, onde são atacadas pela inflamação. Nos ossos podem dar
origem as osteomielites, que são destrutivas e sequelantes.
Cuidar da higiene corporal é fundamental e
da boca, muito mais, pois é o local mais contaminado do corpo e na mastigação,
se faz muitas bacteremias transitórias. Se na saúde as bacteremias transitórias
são importantes, imaginem em pessoas com doenças debilitantes, nas quais se
deve reforçar mais ainda a higiene e saúde bucal. Por exemplo, as osteomielites
só ocorrem em pacientes debilitados!
NOS ONCOLÓGICOS
Os pacientes oncológicos são debilitados
pela doença, mas muito mais ainda quando iniciam as terapias para combater as
células cancerosas que proliferam alucinadamente. Os quimioterápicos combatem a
proliferação das células malignas, mas acabam atrapalhando também a
proliferação e manutenção das células normais, o que debilita mais ainda o
paciente. Estes pacientes ficam propensos às doenças que podem ser iniciadas
por uma bacteremia transitória qualquer por ter uma boca sem higiene e com
dentes, língua e próteses recobertas por placas e cálculos. A osteomielite pode
se instalar na mandíbula e maxila quando estas bactérias chegam na intimidade
dos ossos desses pacientes.
Quando se faz radioterapia, as células cancerosas
morrem ou deixam de proliferar e ainda perdem irrigação sanguínea. Se essa
irradiação passar por um osso, ele tende a perder a maioria de suas células e
seus vasos serão afetados e passará pouco sangue por eles. Esta situação dura 5
anos e se chama osteoradionecrose não tendo nenhuma bactéria envolvida, nem pus
e fístulas.
O osso irradiado com osteoradionecrose,
fica com dificuldade de se defender frente a qualquer bactéria que chegue até
ele. Quando chegam bactérias nos ossos irradiados com osteoradionecrose,
pode-se ter uma osteomielite superposta e que vai se chamar osteoradiomielite.
Este quadro é muito sério e mutilante, tem bactérias e pus abundantes, além de
fragmentos de osso e dentes sendo expelidos por ulcerações bucais e cutâneas!
REFLEXÃO FINAL
A prevenção da osteomielite e da
osteoradiomielite (a partir da osteoradionecrose) e outras complicações da
quimioterapia e da radioterapia é:
1) Paciente ter uma higiene bucal
controlada e dentes saudáveis antes de começar qualquer tratamento oncológico.
2) Fazer análise bucal profissional
rigorosa antes, ressalta-se antes, de começar a radioterapia e ou a
quimioterapia e durante sua manutenção, para controlar possíveis cáries de
radiação.
3) Não fazer qualquer procedimento
cirúrgico bucal sem extrema necessidade, e quando fizer, apenas com
profissional treinado e em um ambiente hospitalar.
Isto deve ser protocolo para qualquer
oncoterapia!
Alberto Consolaro - professor titular pela USP
consolaro@uol.com.br
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