AGENDA CULTURAL

31.5.22

A lei Rouanet dos sertanejos que apoiam Bolsonaro - Leonardo Rossatto

Contra a Lei Rouanet, Zé Neto fatura R$ 3 milhões com dinheiro público 

 

A ofensiva moralista dos sertanejos contra a Anitta que saiu pela culatra foi uma estratégia do governo Bolsonaro em conjunto com o agro e é possível provar.

27 de março: o Lollapalooza Brasil vira um grande evento anti Bolsonaro após o próprio Bolsonaro entrar no TSE para “impedir manifestações políticas”. A coisa ia passar completamente despercebida se Bolsonaro não fizesse isso.

14 de abril: Bolsonaro encontra com o pai de Gusttavo Lima e inclusive sobe no palanque junto com ele no interior de Minas Gerais. Gusttavo Lima desconversa e tenta desvincular imagem de Bolsonaro (inclusive criticou preço da gasolina uns dias depois).

07 de maio: Bolsonaro vai na Fenasoja encontrar com ruralistas e faz discurso contra o MST, contrapondo eles como “vagabundos” e tentando mais uma vez criar a imagem do sertanejo vinculado ao agronegócio como “trabalhador”.

13 de maio: Zé Neto, da dupla com Cristiano, critica Anitta citando sua tatuagem íntima, faz discurso contra Lei Rouanet e defende Bolsonaro.

16 de maio: descobriram que o Zé Neto recebeu 400 mil reais da prefeitura de Sorriso pelo show em que criticou a Lei Rouanet. E valores similares de prefeituras ainda menores.

20 de maio: outra dupla sertaneja (Matheus e Cristiano, sim, é outro Cristiano) faz a música que deve ser o jingle de campanha do Bolsonaro e apresenta a música na mansão do latifundiário Ricardo Faria. Sim, Elon Musk teve que ouvir.

Quando falamos que o Ricardo Faria é latifundiário, é num nível bizarro: comprou terras PRA CARAMBA desde 2018, quando vendeu seu negócio de lavanderias (literais, até onde se sabe). Chama a atenção ele comprar em estados como Maranhão e Piauí.

21 de maio: Zé Neto volta a criticar Anitta em show em Dourados/MS.

23 de maio: pressionado pelo governo, Gusttavo Lima assume a dianteira da briga moralista e defende Bolsonaro através de seu locutor, em show realizado em Brasília.

24 de maio: ressurge a história, publicada originalmente em março, de que Gusttavo Lima vai receber R$ 800 mil da prefeitura da cidade de São Luiz, Roraima, de 8 mil habitantes.

27 de maio: Gusttavo Lima volta a defender Bolsonaro, agora usa o helicóptero de seu frigorífico em Goiânia.

29 de maio: descoberto o tamanho do comprometimento de Gusttavo Lima. Sua carreira é administrada desde o final de 2021 pelo fundo One 7 (isso mesmo), fundado no final de 2018 com claro (!!!) viés de suporte ao governo Bolsonaro.

Pois bem: o fundo de investimento One 7, que também administra a carreira de outros sertanejos, pegou R$ 320 milhões no BNDES.

E a One 7 vende show pra prefeituras como commodities, se orgulha de já ter vendido 192 shows como “mercado futuro”, de já ter acertado milhões de reais em shows. Invariavelmente em cidades pequenas para cantores bolsonaristas, a grande maioria em período pré-eleitoral.

A coisa é tão escancarada que Bolsonaro deu até orientação direta aos cantores sobre o que pode e o que não pode ser falado nos shows, pra evitar crime eleitoral.

Resumindo: uma empresa bolsonarista recebeu R$ 320 milhões do BNDES pra contratar artistas que façam campanha para Bolsonaro e ainda desviar milhões e reais de prefeituras de pequenas cidades. Do outro lado, latifundiários querem bancar a campanha em troca de mais terras ainda.

*Leonardo Rossatto
Sociologia / Políticas Públicas / Sustentabilidade / Planejamento Territorial / Fé / Ciência

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