AGENDA CULTURAL

7.5.22

Quantos cavalos tem o motor de seu carro?

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Uma mulher de 44 anos, identificada como Nadir Maria Marin Buono, morreu em decorrência dos ferimentos sofridos em acidente envolvendo um Fiat Uno e um cavalo. O acidente foi na Rodovia Elyeser Montenegro Magalhães, alto do Bairro Verde Parque, em Araçatuba (LR 07/05/2022).

O título dessa crônica parece trivial, sem fundamento, mas tem um  sentido antropológico que revela a trajetória da humanidade no planeta Terra. Sem o equino, o mundo ocidental não teria nem inventado a roda. 

Dizem os estudiosos que o índio continuou imerso na floresta, chamando-a de mãe, porque não usou o cavalo para se mover, para puxar o arado. 

Sem usar o cavalo como seu escravo, que puxava carroça, carruagem etc não teríamos chegado ao semovente fabricado por nós mesmos: o carro, caminhão, moto, ônibus e seus similares.

Agora, nos damos o luxo de proibir o trânsito de carroças no centro da Araçatuba (decreto da Prefeitura), mas antigamente os equinos valiam o preço de um carro: o nobre andava a cavalo, o peão, a pé. Houve muitos cavalos famosos na história da Humanidade. Ter um cavalo era pertencer a outra classe social, a nobreza. 

Como construímos a sociedade dos carros, avançamos tecnologicamente, o equino não tem mais espaço na cidade, ele é um estorvo. Mas existem os remanescentes, ainda temos carroceiros, que têm como companheiro de trabalho um cavalo, um burro ou então as fêmeas.

A Nadir Maria não sobreviveu, o cavalo também não (qual seria o nome do animal). Como a humanidade se acha o centro do planeta Terra, valorizaremos mais a perda da vida da motorista. 

Porém, não podemos esquecer, de acordo com o código de posturas da cidade, que um cavalo não pode circular por seus labirintos, ou seja, as ruas, avenidas, rodovias por onde andamos montados nos seus descendentes, o carro, moto.

Este cronista não pretende culpar ninguém, mas levar o caro leitor a uma reflexão: o choque do carro com um cavalo nos faz pensar nos rumos de nosso desenvolvimento tecnológico e urbano. 

Dizem que animal não tem alma, mas certamente os dois criaram asas e voaram. Meus sentimos à família de Nadir Maria; e minha cara feia ao dono do cavalo, pois não cuidou dele.

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