A
questão cultural antecede à educacional, porque na primeira acontece a
mudança, na segunda, a mudança é consolidada, ensinada.
Até
podemos dizer que elas são simultâneas em certas situações, mas nunca que a
educação precede à cultura, como acontecia com o nome do ministério: Ministério
da Educação e Cultura. Exemplo: primeiro aconteceu o Modernismo nas artes,
depois de algum tempo, ele foi ensinado nas escolas.
Mas
todos têm consciência de que educação e cultura devem trabalhar juntas, pois o
Ministério da Educação continuou se chamando MEC, apesar de não ter mais a
cultura em seu organograma. E ambas foram atacadas por Bolsonaro em seu
governo.
Já
tivemos tempos em que considerávamos a cultura apenas os eventos de seus
templos, como música clássica, teatro, dança, literatura.
Verdadeiramente, cultura é tudo aqui que nos diferencia dos animais, é o mundo
à parte da natureza.
Instintivamente
todos comemos (humanos e animais), mas nós humanos temos o cardápio, que é um
jeito elaborado de comer (cultura). A cultura brasileira é criada (produzida) por todos,
e não deve ser um direito limitado às elites a fruição (consumo) artística.
Um
princípio do estado democrático é que ele não produz cultura. Não são os
governos que conduzem a cultura, eles apenas estimulam as artes, dão condições
para que todos os grupos sociais se manifestem. O totalitarismo (tanto de
direita como de esquerda) já tentaram tutelar a cultura e foi uma experiência
desastrosa para a humanidade. Vou citar alguns nomes para que o leitor se lembre:
Hitler, Mussolini, Stalin, Mao.
O
governo Bolsonaro tentou tutelar a cultura, iniciando com a eliminação do
Ministério da Cultura, reduzindo-a em seu governo numa secretaria. Só
financiava projetos que lhe interessava politicamente.
Exemplo:
Taurus investiu R$ 336 mil na produção de livro com benefícios fiscais.
Secretaria de Cultura prometeu R$ 1,2 bilhão, via incentivo fiscal da Lei
Rouanet, para conteúdos pró-armas.
Se
algum dinheiro chegou às mãos dos artistas durante o governo Bolsonaro foi
porque o Congresso Nacional, movido pela oposição, pressionou, votou contra,
como aconteceu na derrubada dos últimos vetos:
O Congresso Nacional derrubou nesta terça-feira (5/7/22) os vetos totais do presidente Jair Bolsonaro (PL) às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, ambas de incentivo ao setor cultural. Se há dinheiro para todas as falcatruas, porque na hora de ajudar a cultura precisa conter despesas?
A
prenúncio da derrota foi tamanho que o ex-secretário, Mário Frias, que deixou o
governo para ser candidato a deputado, teve um infarto na véspera da votação:
4/7/2022.
Não
se trata de oposição sistemática do mundo cultural ao governo Bolsonaro, mas de
defender a democracia dos ataques das forças da escuridão.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário
municipal de Cultura de Araçatuba (2009-2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário