AGENDA CULTURAL

8.7.22

As forças da escuridão

Hélio Consolaro*

A questão cultural antecede à educacional, porque na primeira acontece a mudança, na segunda, a mudança é consolidada, ensinada. 

Até podemos dizer que elas são simultâneas em certas situações, mas nunca que a educação precede à cultura, como acontecia com o nome do ministério: Ministério da Educação e Cultura. Exemplo: primeiro aconteceu o Modernismo nas artes, depois de algum tempo, ele foi ensinado nas escolas. 

Mas todos têm consciência de que educação e cultura devem trabalhar juntas, pois o Ministério da Educação continuou se chamando MEC, apesar de não ter mais a cultura em seu organograma. E ambas foram atacadas por Bolsonaro em seu governo.

Já tivemos tempos em que considerávamos a cultura apenas os eventos de seus templos, como música clássica, teatro, dança, literatura. Verdadeiramente, cultura é tudo aqui que nos diferencia dos animais, é o mundo à parte da natureza.

Instintivamente todos comemos (humanos e animais), mas nós humanos temos o cardápio, que é um jeito elaborado de comer (cultura). A cultura brasileira é criada (produzida) por todos, e não deve ser um direito limitado às elites a fruição (consumo) artística.

Um princípio do estado democrático é que ele não produz cultura. Não são os governos que conduzem a cultura, eles apenas estimulam as artes, dão condições para que todos os grupos sociais se manifestem. O totalitarismo (tanto de direita como de esquerda) já tentaram tutelar a cultura e foi uma experiência desastrosa para a humanidade. Vou citar alguns nomes para que o leitor se lembre: Hitler, Mussolini, Stalin, Mao. 

O governo Bolsonaro tentou tutelar a cultura, iniciando com a eliminação do Ministério da Cultura, reduzindo-a em seu governo numa secretaria. Só financiava projetos que lhe interessava politicamente. 

Exemplo: Taurus investiu R$ 336 mil na produção de livro com benefícios fiscais. Secretaria de Cultura prometeu R$ 1,2 bilhão, via incentivo fiscal da Lei Rouanet, para conteúdos pró-armas.

Se algum dinheiro chegou às mãos dos artistas durante o governo Bolsonaro foi porque o Congresso Nacional, movido pela oposição, pressionou, votou contra, como aconteceu na derrubada dos últimos vetos:

O Congresso Nacional derrubou nesta terça-feira (5/7/22) os vetos totais do presidente Jair Bolsonaro (PL) às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, ambas de incentivo ao setor cultural. Se há dinheiro para todas as falcatruas, porque na hora de ajudar a cultura precisa conter despesas?

A prenúncio da derrota foi tamanho que o ex-secretário, Mário Frias, que deixou o governo para ser candidato a deputado, teve um infarto na véspera da votação: 4/7/2022. 

Não se trata de oposição sistemática do mundo cultural ao governo Bolsonaro, mas de defender a democracia dos ataques das forças da escuridão. 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Ex-secretário municipal de Cultura de Araçatuba (2009-2016) 


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