AGENDA CULTURAL

2.11.22

Desordeiro se veste de ordem e progresso

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Temos a tendência de querer que nosso time de futebol ganhe todas, não perca nenhuma partida. E quando perde, chamamos logo o juiz de ladrão, sem fazer a autocrítica. É o famoso direito de espernear. 

Nem o Var escapa do xingamento. A vitória é uma delícia, a derrota sempre é amarga. Sujeito que não tem preparo psicológico para perder, só reza repetindo as palavras do pastor, não lê nada, acha que querer é poder, não suporta a frustração.

Quando assisto aos jogos do Palmeiras, não xingo o juiz e nem os jogadores adversários. Sou excessivamente rigoroso com os jogadores de meu time. Se fizerem besteira, grito logo:

- Pede licença para mijar e não volta mais!

Se erra um chute:

- Vai fazer um curso de "como chutar bem"! Aqui em Araçatuba tem.

Outro dia, a Helena me perguntou:

- E há escola de futebol em Araçatuba?

E respondo que existe sim, na rua dos Fundadores, antigo clube de campo do Coríntians de Araçatuba. 

Outras vezes, quando o time vai indo mal mesmo, torcida organizada parte para a violência, quer bater em jogador de seu time, picha parede da sede do clube. Quer resolver os problemas na violência, no tiro. Uma selvageria.

Essa luta do ser humano entre o animal, que mora dentro de cada um de nós, e os protocolos, a ética, jeito educado de se comportar se chama barbárie & civilização.

Na barbárie, palavra que vem de bárbaro, povo não europeu, meio grosseiro, que invadia o Império Romano em decadência por meio de guerras, que se julgava mais civilizado. Ou seja, Europa era um continente que tinha mais regras, leis, código de conduta. 

Civilização vem de civil, que não é militar e nem clerical, ligado ao cidadão, enquadrado aos bons costumes. Então civilização tem mais regras, não aceita selvageria. Chamado hoje de politicamente correto. Aprendeu as boas maneiras na escola.

Aqui no Brasil, a direita era a certinha, andava de terno e gravata, detestava bagunça, tudo feito nos conformes; a esquerda era mais anarquista, cheia de vontade para fazer aglomerações, passeatas, atos públicos.

O ainda presidente Bolsonaro afirma que veio para dar voz à direita, provavelmente quer dizer ultradireita, porque basta ter bolsonarista raiz no pedaço para sair confusão e  tiros. Já xingaram até bispo em Aparecida. Representa a barbárie. Há os bolsonaristas nutela, mauricinhos e patricinhas.

Nas manifestações contra os resultados eleitorais deste ano, em que Jair Bolsonaro perdeu, os bagunceiros bolsonaristas não querem saber de leis, perderam o jogo e estão chamando o juiz de ladrão. Manifestam suas frustrações atrapalhando a vida do país. 

Está muito esquisito: a esquerda quer ordem e progresso, enquanto a ultradireita bagunça empunhando a bandeira "ordem e progresso". O anarquismo mudou de lado.

 

2 comentários:

Ventura Picasso disse...

No pacote nazi- fascista a mentira é a ordem do dia dos milicos e o povão ordinário marcha...

Anônimo disse...

Fica difícil para o povo ,somente a história poderá ou não definir qual é o sujo e qual é o mal lavado. ..